Ao chegar em terras brasileiras na segunda metade dos anos 50, o rock and roll foi absorvido inicialmente pelas orquestras de jazz e pelos cantores tradicionais, responsáveis pelos primeiros hits do novo gênero.
Assim, em outubro de 1955, Nora Ney (foto), uma cantora de boleros e samba canção, gravou o rock “Ronda das Horas”, que era, na verdade, uma versão coverizada – e em inglês – de “Rock Around the Clock”, gravado originalmente por Bill Haley and His Comets.
Em janeiro de 1957, nasce o primeiro rock de autor brasileiro escrito com letra em português, “Rock and Roll em Copacabana”, obra do compositor Miguel Gustavo, com interpretação de Cauby Peixoto.
Em abril de 1957, Betinho e seu Conjunto foram responsáveis pelo primeiro rock com guitarra elétrica, o clássico “Enrolando o Rock”, onde Betinho tocou uma novíssima Fender Stratocaster, que substituiu a antiga Gibson-Les Paul usada no início da década.
Outro marco histórico do nascimento do rock nacional foi um compacto de 78 rotações com as músicas “Forgive Me” e “Handsome Boy”, gravado em 1958, pelos irmãos Tony Campello e Celly Campello, vindos do interior de São Paulo.
Os dois se transformariam nos primeiros ídolos rockers da juventude rock com as gravações de “Banho de Lua” e “Estúpido Cupido”, de Celly Campelo, e “Baby Rock” e “Lobo Mau”, de Toni Campello.
Entre os clássicos da época, também se destacaram “Broto Legal”, de Sérgio Murilo, “Rua Augusta”, de Ronnie Cord”, “Rock do Saci”, de Demétrius, “Bata Baby”, de Wilson Miranda, “Estou Louco”, de Baby Santiago, “Vigésimo Andar”, de Albert Pavão e “Diana”, de Carlos Gonzaga.
A década de 60 abriu com a mistura de rock tradicional, som instrumental, surf music e outros ritmos como o twist e o hully gully.
Com o surgimento dos Beatles e dos Rolling Stones, o rock brasileiro explodiu definitivamente sob diversas formas, transformando-se em um dos mais criativos da América Latina.
O movimento Jovem Guarda, liderado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, envolveu a maioria da juventude, com programas de televisão, shows ao vivo e inúmeros discos, entre LPs e os lendários compactos.
Além dos três, também se destacaram os cantores Eduardo Araújo e Ronnie Von e os grupos Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, Golden Boys e The Fevers, entre outros.
Ao lado da Jovem Guarda, também a Tropicália, eliminando as fronteiras sonoras e culturais, introduziu a guitarra na tradicional MPB e o discurso político no rock, produzindo a versão brasileira da psicodelia mundial.
Neste movimento, se destacaram intérpretes, compositores e arranjadores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Rogério Duprat e, de forma especial, o grupo Mutantes.
Os anos 70 foram marcados pelas bandas e intérpretes “made in Brazil”, que afirmaram definitivamente a identidade do rock nacional, compondo e cantando em português e, também, ampliando o domínio da técnica, dos equipamentos e dos estúdios.
Iluminados pelo exemplo dos Mutantes, dezenas de grupos desdobraram-se em variadas experiências, do rock visceral do Made In Brazil, ao progressivo Som Nosso de Cada Dia, liderado pelo ex-Incríveis Manito, passando pela psicodelia barroca do grupo A Barca do Sol, pelo rock rural do Ruy Maurity Trio ou pela mistura de progressivo/erudito/música regional do grupo O Terço, entre outros.
Os Novos Baianos (de Moraes Moreira, Pepeu Gomes e Baby Consuelo) levaram adiante as idéias de fusão da Tropicália, assim como o pernambucano Alceu Valença, pai do forrock, que inspirou Chico Buarque a entrar na dança com a balançante “Baioque”.
Destacaram-se ainda nos anos 70, os grupos Som Imaginário, O Peso, Bixo da Seda, Moto Perpétuo, Módulo Mil, Arnaldo Baptista & Patrulha do Espaço, Sá, Rodrix & Guarabira, Secos & Molhados e a banda Vímana, que trazia na sua formação Ritchie, Lulu Santos e Lobão.
O grande destaque desta década é o surgimento de Raul Seixas que, depois de liderar o grupo Raulzito e Os Panteras, em meados dos anos 60, e produzir inúmeros artistas para a CBS, entre eles Jerry Adriani, transformou-se no maior roqueiro do Brasil, com sua colagem universal de Elvis Presley, John Lennon e Luiz Gonzaga.
Nos anos 80, o rock brasileiro se firma no mercado. Nomes consagrados da MPB e da música romântica cedem espaço nas paradas de sucesso a artistas influenciados pelas novas tendências internacionais. Punk, new wave e reggae ecoam no Brasil.
O grupo Blitz, liderado por Evandro Mesquita, é o primeiro fenômeno espontâneo. Sua música "Você não soube me amar", de 1982, é sucesso nacional.
Segue-se um surto de novos talentos, como Barão Vermelho, que tem Cazuza, considerado o maior letrista do rock brasileiro dos anos 80, Kid Abelha & os Abóboras Selvagens, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Ira! e Camisa de Vênus. São eles os novos interlocutores da juventude.
Uma fusão de MPB com a música pop internacional ganha espaço no rádio. Eduardo Duzek, Marina Lima, Lulu Santos, Lobão e Ritchie são os representantes dessa tendência.
O grupo paulistano RPM, liderado por Paulo Ricardo, chega a vender 2 milhões de discos entre 1986 e 1988.
Ainda de São Paulo emergem Ultraje a Rigor (com a música Inútil) e Titãs, cujo disco Cabeça dinossauro transforma-se em marco da musicalidade produzida no período.
Das outras bandas nacionais que se destacaram nos anos 80, ou eram pop rock caso dos Engenheiros do Havaí, Heróis da Resistência, João Penca e os Miquinhos Amestrados, Capital Inicial, Plebe Rude, Biquini Cavadão, Lobão e os Ronaldos, Rádio Táxi, Roupa Nova, Placa Luminosa, Leo Jaíme, Kiko Zambianchi e Kid Vinil, ou eram punks, como Os Inocentes, Cólera, Ratos de Porão, Garotos Podres, Olho Seco e Mercenárias.
Nos anos 90, a grande novidade foi o surgimento da MTV Brasil, que passou a divulgar vários clipes das bandas locais. E o primeiro "grande grupo" da década foi o mineiro Skank, que misturava rock e reggae. Ao longo da década, outros grupos mineiros surgiriam, como Pato Fu, Jota Quest e Tianastacia.
Em 1994, surgiu em Recife o movimento Mangue beat, liderado por Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, do vocalista Fred 04.
O movimento misturava percussão nordestina a guitarras pesadas, conquistando a crítica e o público, que resultou no surgimento de novos rebentos como Mestre Ambrósio, Jorge Cabeleira, Querosene Jacaré e Cordel do Fogo Encantado.
Entre 94 e 95 surgiram dois grupos bem-sucedidos pelo humor: os brasilienses Raimundos, com o ritmo “forrócore” (forró + hardcore) e os guarulhenses Mamonas Assassinas, parodiando do heavy metal ao sertanejo, que chegaram a fazer três shows por dia e venderam 1,5 milhão de cópias antes de morrerem em um acidente de avião, em 96. Seu único disco vendeu quase três milhões de cópias.
Alguns rappers tiveram ligação íntima com o rock, como Gabriel o Pensador e Marcelo D2, do Planet Hemp, que pedia a legalização da maconha.
Seguindo o caminho do metaleiros do Sepultura e do Viper, o Angra gravou em inglês, alcançando considerável sucesso no exterior.
Outros destaques são O Rappa, também misturando reggae e rock; Charlie Brown Jr., um skate rock com vocais rap; Cássia Eller, com um repertório de Cazuza e Renato Russo; e Los Hermanos, que surgiram com “Anna Júlia”, canção pop que não combinava com a imagem intelectual da banda.
2001 foi um ano trágico para o rock brasileiro. Herbert Vianna, dos Paralamas, sofreu acidente de ultraleve e ficou paraplégico (mas voltou a tocar); Marcelo Frommer, dos Titãs, morreu atropelado; Marcelo Yuka, d'O Rappa, foi baleado e ficou paraplégico (saiu da banda); e Cássia Eller morreu de overdose.
A atual década presenciou dois grandes sucessos: a MTV, com seu Acústico, que “ressuscitou” alguns grupos dos anos 80, como Capital Inicial, Titãs e Ira!; e o produtor dos Mamonas, Rick Bonadio, que revelou entre outros, Charlie Brown Jr., Tihuana, O Surto, CPM22 (com hardcore melódico) e Detonautas Roque Clube (com a mistura hardcore melódico/electro/pop).
Entre os destaques dos anos 2000, podemos destacar Móveis Coloniais Acaju (foto), Cachorro Grande, Mombojó, Pitty, Geladeira Metal, Graforréia Xilarmônica, Gangrena Gasosa, Sheik Tosado, Cidadão Instigado, Shaman, Moptop, Carbona, Udora, Coquetel Molotov, Bad Folks, Amp, A Grande Trepada, Mukeka di Rato, Autoramas, Canastra, Jumbo Elektro, Macaco Bong, Cascadura, Garage Fuzz, Supercordas, NX Zero, Walverde, Pata de Elefante, Filhos de Empregada, Stereovitrola, Ayakan e Cansei de Ser Sexy.
O resto é conta de multiplicar. Ou, se for o caso, de subtrair.
Um comentário:
Pôxa, você fez uma verdadeira pesquisa. gosto de rock e foi bom conhecer mais sobre a trajetória dele no Brasil. Obrigada.
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