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segunda-feira, julho 24, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 10)


CIRCUNCISÃO – Invenção de Deus. Sério. Um dia ele estava muito entediado e disse: “Aquele que tiver oito anos entre vocês deve ser circuncidado. Quem não tiver o prepúcio cortado terá cortada a sua alma à parte do meu povo, pois quebrou o pacto” (Gênesis, XVII, 10-14). Quer dizer: Deus, além de ter posto uma cobra no Paraíso, ainda fez um homem que precisava ser mutilado! É dose!
E ele, Deus, será circuncidado? E se é, quem levou a cabo a operação? E se não é, não estará transgredindo a sua própria lei?
Embora os judeus e muçulmanos pretendam que Deus e Alá tenham sido os inventores da circuncisão (ato de cortar parte do prepúcio dos recém-nascidos e neófitos entre judeus e algumas seitas muçulmanas), a verdade é que este rito de mutilação (sem perguntar a opinião da criança) já era praticado em tempos pré-bíblicos.
Até metade do século passado, uma tribo árabe costumava tirar toda a pele do pênis do menino em frente do seu pai e futura noiva.
Uma quinta parte dos garotos morria na operação e aquele que não morresse, mas chorasse, acabava sendo morto pelo próprio pai, por ser covarde e indigno.
Certas tribos africanas que nunca ouviram falar no deus dos judeus preferem circuncidar as meninas, amputando-lhes o clitóris.
Como vocês podem ver, o único fenômeno que realmente não conhece limites é a estupidez humana.

CLÉOPATRA (69 a.C. – 32 a.C.) – Como a História é sempre escrita pelos vencedores, é preciso dar um bom desconto. Foram romanos como Virgílio (seu contemporâneo) e Plutarco (cem anos depois) que escreveram sobre Cléopatra. Aparentemente não era um mulherão: baixinha de traços delicados, mas com uma energia, charme, sensualidade e ambição impressionantes. Tão impressionantes que estou aqui escrevendo sobre ela mais de 2 mil anos depois da sua morte, em vez de ir à praia.
Foi a sétima Cleópatra e a última rainha da dinastia Ptolomeu, macedônios que governaram o Egito durante trezentos anos. Para quem não sabe, a Macedônia ficava onde hoje está a Iugoslávia.
Diderot dizia que se o nariz de Cleópatra fosse um pouco maior ou um pouco menor, a história da humanidade seria outra. Diderot não entendia nem de retórica nem de assalto.
Por que não dizer então que se César, conhecido como marido de todas as mulheres e mulher de todos os maridos, fosse um pouco mais viado do que era, o mundo não seria hoje o que é?
O pai de Cleópatra, Ptolomeu XII, vivia de porre e inteiramente subjugado ao poder romano.
Quando ele morreu, Cleópatra, segundo o costume egípcio, casou com o irmão Ptolomeu XIII. Ela tinha dezessete e ele dez anos.
Ptolomeu era uma bichinha muito dengosa e inteligente e percebeu logo que se deixasse a irmã-esposa (o casamento nunca foi consumado) permanecer no Egito ele é que não permaneceria muito tempo no trono.
Aconselhada por bichas mais taludas, expulsou nossa heroína, que fugiu para a Síria onde preparou um exército para invadir o Egito.
A esta altura, César, um careca de seus cinquenta anos, mas o homem mais poderoso do mundo, resolveu acabar com a briga das crianças.
Cleópatra, que parecia saber que seria tema de Gibbon, Shakespeare, Shaw e uma porrada de diretores de cinema medíocres, preparou sua rentrée triunfal.
Seu escravo, Apolodorus, jogou-a de dentro de um tapete e ela foi rolando até os pés de César no palácio de Alexandria. Aparentemente o coroa gamou e a comeu no mesmo dia.
Depois tentou reconciliá-la com o esposo-irmão, mas a bichinha morreu numa batalha e ela casou-se com outro mano, ainda mais moço, Ptolomeu XIV, que morreu envenenado posteriormente.
Com César teve um filho chamado Cesário e dois filhos com Marco Antônio.
Pode-se dizer que tanto César quanto Marco Antônio se apaixonaram de fato por Cleópatra.
Ela, porém, não era uma bobinha qualquer: dona de uma cultura poderosíssima, queria – e quase conseguiu – fazer do Egito o Império Oriental.
Não se deixou aprisionar viva, como pretendia Otávio, mas deu um jeito de ser mordida por uma serpente naja. Saiu de cena tão espetacularmente como entrou.
Seu filho com César foi assassinado por ordem de Otávio e seus filhos com Marco Antônio foram criados como patrícios romanos.
Era o fim da dinastia Ptolomeu, mas a morte de Cleópatra a transformou numa legenda, o símbolo que mantém vivo o nacionalismo egípcio até os dias de hoje.
Não era bem o nariz – conforme queria Diderot – que amarrava o poder a Cleópatra. Ela teria sido a mais famosa felatriz do mundo antigo. Segundo Virgílio, teria chupado mais de mil homens.
Talvez por isso os gregos a chamassem de Cheílon (a dos lábios grossos), ou a mulher das mil bocas, que teria felaciado cem oficiais romanos numa noite.
Para uns, César já sabia disso quando entrou na dela; para outros, ela era virgem quando conheceu César.
Enfim, como eu escrevi no princípio do verbete, não foram os egípcios que escreveram a História.

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