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quarta-feira, julho 26, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 16)


DIABO – Era uma vez um tal que atravessava uma ponte de madrugada quando viu, no meio dela, um sujeito magro, de bigode fino, cabelo bem preto, pele muito branca. Levou um susto, mas foi logo tranquilizado pelo cara:
– Eu sou o Diabo e de mil em mil anos eu subo à terra para satisfazer três desejos do primeiro mortal que encontrar.
– E não tem que vender a alma? – perguntou o mortal.
– Não – respondeu o magro.
– Então eu quero... – começou o afobadinho, que foi logo interrompido pelo outro:
– Eu disse que eu era o Diabo e não Deus. Não tem que vender a alma, mas tem que dar o rabo.
– Pô, seu Diabo, dar o rabo é brabeza! Eu não sou chegado a um trolho, não! O meu negócio é mulher.
– Mas tu és trouxa mesmo, hein, ó mortal? Se o teu negócio fosse dar o rabo não tinha graça nenhuma. Tu me davas o brioco sem eu ter que satisfazer os três pedidos.
O mortal viu uma certa lógica nas palavras do brancão e disse, baixando as calças:
– Tá certo, tu me come, mas moita, hein! Maior discrição! E não esquece dos três pedidos.
O Diabo comeu a bunda do sujeito bem comida e, depois de botar o pau dentro das calças e abotoar a braguilha, foi se afastando dizendo:
– Boa-noite, rapaz!
– Que boa-noite, que nada, seu Diabo! E os meus três desejos?
– Você não está muito crescidinho pra acreditar em Diabo?
E você, leitor, também acredita em Diabo?...
A origem da palavra diabo eu confesso que não sei, embora desconfie.
A verdade é que não estou com saco para sair por aí pesquisando e o meu estúdio está a maior zorra.
Mas a palavra demônio daemon – vem do grego daimon e na mitologia era utilizado para denominar um poder sobrenatural.
Homero usa daimon do mesmo modo que usa Theos, ambos para enfatizar a personalidade do deus.
Desde que daimon era usado para designar o autor de qualquer fenômeno não atribuído a nenhuma divindade em particular, acabou por se tornar o poder que determinava o destino de cada homem.
Ou seja: cada ser humano tinha o seu demônio particular.
Segundo Hesíodo, os mortos da Idade do Ouro se transformavam em demônios.
Posterior especulação filosófica dava os demônios como superiores aos mortais, mas inferiores aos deuses.
A partir daí não é difícil compreender por que os cristãos antigos atribuíam as ações dos demónios aos anjos caídos, transformando os que não se revoltaram contra Deus em anjos da guarda e cosi via...

DILDO – Em verdade quem chama qualquer objeto (que não seja o pênis) de enfiar nos orifícios humanos de dildo são os americanos. Nós chamamos de consolador e – como eles –, mais recentemente, depois da invenção das pílulas, de vibrador.
Os franceses, desde o século XIX pelo menos, chamam esses troços desagradáveis de godomichet.
Só entra como dildo por aqui porque esqueci de colocá-lo como consolador na letra “C”, o que também é natural, pois quem gosta de consolador no “C” é galã de novela.
Enfim, o dildo é o caralho artificial, desses que existem em lojas de sacanagens e que vão desde os simples de borracha até os sofisticadíssimos eletrônicos.
Não são, porém, coisa modernosa, não!
A sacanagem existe desde que Adão começou a comer todos os bichos e bichas do paraíso, até Deus se mancar e fabricar Eva.
Em certas esculturas da antiga Babilónia, o dildo aparece nas mãos de uma mulher preparando-se para coloca-lo entre as pernas e a mesma imagem pode se ver em antigos entalhes hindus e chineses.
Isso para não falar no consolador mencionado na Bíblia: “Você apanhou o melhor ouro e a melhor prata que lhe dei e fez deles imagens de homens que usou para seu prazer”.
Quem achava que a Bíblia era só “Salve Rainha” – como vê — equivocou-se. Basta ler Ezequiel, XVI, 17.
Existem dildos de matéria plástica, com e sem pilha, de cerâmica, marfim, porcelana, ouro, prata, elétricos, eletrônicos, de borracha, de todos os tamanhos, enfim, mas os mais populares são, desde os tempos mais remotos da civilização, bananas, cenouras e pepinos.
Há quem prefira garrafas, como um viadinho de Porto Alegre que foi levado às pressas ao Pronto Socorro com uma Coca-Cola família entalada no fiofó.
O médico simplesmente quebrou o fundo da garrafa para que o vá cu o acabasse e o dildo consentisse em sair.
Pior sorte teve um perobo de Londres que se masturbava com um dildo à pilha enfiado na olhota.
Na hora de gozar o aparelho perdeu-se dentro do moço, que teve que sofrer anestesia geral para que pudesse ser retirado.
Aparentemente, dildos também têm simpatias pessoais.

DIVÓRCIO – Dissolução legal do casamento encontrável nas civilizações mais antigas, mas que no Brasil só começou a ser praticado recentemente. Sem muito sucesso – é preciso salientar – porque caro demais para o proletão e pouco respeitável para os tabus de boa parte da classe média. Vai daí que, aqui na Casa da Mãe Joana, divórcio é coisa de rico.
Há ainda o divórcio mineiro, que se resume, geralmente, na transformação de um dos cônjuges (impossível resistir à atração deste substantivo, quase verbo: “vamos dar uma conjugadazinha”) em cadáver.
Na Roma pré-cristã, o marido só podia divorciar se da mulher em três casos: 1) se a flagrasse com outra trolha que não a dele dentro dela; 2) se ela fosse porrista incorrigível; 3) se se comportasse mal constantemente.
Vocês manjam, né? Essas senhoras que depois de duas garrafas de vinho começam a ficar curiosas sobre o que outros homens, que não os respectivos maridos, trazem no meio das pernas.
Verdade é que na antiga Roma, principalmente entre a aristocracia, porres e cornificações eram o trivial simples. Quando o marido enchia, apelava para a lei. Mais ou menos como acontece entre a melhor sociedade paulista e carioca. Só que entre nós o corno não pode apelar para lei alguma.
Entre os povos semitas, o divórcio também era prática (sei do cacófato) comum e, geralmente, quem entrava bem era a mulher, e neste bem aí, entenda-se mal.
O marido babilônico, por exemplo, não precisava de justificativa alguma para mandar a mulher tirar o time. É claro que se ele a flagrasse com outro cara na cama (não precisava nem ser na cama, podia ser atrás de uma moita mesmo), o outro cara e ela eram afogados publicamente sob aplausos generosos da plateia.
Os judeus, até o século XI, apoiavam-se numa passagem de Deuteronômio para se divorciarem das respectivas Saras e Raquéis. Bastava que declarassem que a patroa era suja, o que englobava não só o adultério como qualquer troço (roncar, mexer nos bolsos à procura de grana, peidar) que o marido não gostasse.
Até hoje uma mulher maometana não pode iniciar um caso de divórcio. O máximo que pode fazer é dizer pro marido: “Benzinho, deixa eu ir embora que eu deixo você ficar com toda a grana que o papai te deu como dote quando casamos”. Se ele topar, ela pode partir para libações independentes. Sempre que praticadas com discrição, naturalmente.
Apesar do (mau) exemplo de Henrique VIII, o divórcio nos países anglicanos até hoje não é moleza.
Antes de 1885, nego pra se divorciar tinha que pedir permissão ao Parlamento e desembolsar uma grana equivalente a quase 2 mil libras. Fudido se divorciar, então, nem pensar.
No fim do século passado não havia mais de mil casos de divórcio na Inglaterra, enquanto que nos Estados Unidos o número subia a quase 50 mil.
É que, ao contrário do marido, a mulher não podia livrar-se dele alegando adultério simplesmente. Tinha que acrescentar: “Além de me cornear o sacana ainda me passou uma gonorréia de gancho”. Estou brincando, gonorréia simples também era motivo sério de divórcio.
Em 1929, o juiz Abnel Russel recusou o pedido de divórcio de uma mulher sob a alegação de que o marido a sodomizava, quer dizer trabalhava no orifício anticoncepcional. Explicação do juiz: “O marido conseguiu provar que havia informado suas (más) intenções à mulher antes do casamento”. Será que o cara apresentou uma carta ao juiz em que dizia à noiva: “Jennifer, meu amor, não vejo a hora de nos casarmos para poder comer o teu rabo?”
Pessoalmente, prefiro acreditar que o juiz Russel levou uma grana.
Apesar disso, até hoje a sodomização da mulher é proibida na Inglaterra. Lei pouquíssimo usada, mas ainda em vigor.
Em poucos países não existe o divórcio hoje em dia. Creio que apenas na Argentina, no Uruguai, no Chile, na Irlanda, na Espanha e em Andorra.
Nos Estados Unidos está se tornando um hobby caro demais para os comuns mortais. Cara que divorcia mais de duas vezes tem que pedir dinheiro emprestado em bancos para poder pagar as pensões das ex-esposas e filhos.
Norman Mailer, que se casou umas cinco vezes, disse que não viu um tostão do adiantamento que o editor lhe fez para que escrevesse The Executioner Song, livro tão longo quanto chato. E se tratava de quase 1 milhão de dólares.
Por via das dúvidas, meus filhos, não casem. Mas olhem só quem está falando!

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