A regra era clara:
menina direita não fode nem sai de cima. E voltei à programação normal. Como
tomei gosto pela coisa, passei a participar de renhidas batalhas, a preços
módicos, nas ruas Riachuelo e General Gurjão, duas travessas da avenida
Presidente Vargas.
A primeira incursão,
na noite de Natal, quando tomei o primeiro porre, foi um desastre anunciado.
Quando saímos, em caravana cívica, para a zona do meretrício, minha mãe advertiu:
– Boa romaria faz quem
na sua casa fica em paz.
Acho que eu era o mais
bêbado e o mais novo do grupo. Num dos casarões, em vez do esperado afrodisíaco
visual, gordas enroladas em toalhas, em fim de expediente.
Alguns tiraram uma
gracinha com elas, que prontamente quebraram umas garrafas de cerveja e saíram
atrás deles, que embarafustaram corredor afora.
Chumbado, meio pau,
meio tijolo, fiquei dando sopa no corredor, e elas partiram pra cima de mim,
buscando a minha jugular com os cacos. Conseguiram o pescoço. Até hoje tenho as
marcas.
Coberto de sangue,
encontrei o grupo no meio da Riachuelo. Enquanto uns me levaram ao
pronto-socorro, outros invadiram o prostíbulo, onde um inspetor de polícia deu
um chute no saco do meu irmão e quase também o mandava pro beleléu.
O que o fez lembrar a
máxima do filósofo grego Araniz: “Mulher reclama de cólica porque nunca levou
um chute no saco”. Mesmo assim, voltei ao local dos crimes inúmeras vezes.
As prostitutas que ali
prestavam serviço eram alvo das catilinárias de dom Alberto Gaudêncio Ramos,
arcebispo de Belém.
Do púlpito, convocava
a população para uma cruzada: “Vamos extirpar esse câncer em pleno centro de
nossa amada cidade!”
Faz tempo que o
arcebispo foi despachado para o inferno. Mas as meninas, mesmo rarefeitas,
continuam lá, dando consultas, resistindo.
Havia uma alternativa
ecológica. Transar com as meninas mais dadas no balanço das ondas do Mosqueiro
e do Outeiro.
Morro de rir quando
esses caras falam em gloriosas trepadas nas águas gélidas da costa do Rio e São
Paulo. Você pode dar uma rapidinha nelas, e nada mais.
No Mosqueiro e no
Outeiro, não: as águas são tépidas, se transformam em Maracanãs do Sexo. Você
anda pela areia e fica vendo o pessoal transando dentro da água.
Então, o acesso era um
pouco complicado. No Outeiro, mais popular, você podia chegar de carro e pegar
uma balsa. Feita a travessia, era correr pro abraço.
O Mosqueiro era o
programão das férias de julho. Chegava-se lá num belo navio, o Presidente
Vargas, hoje no fundo do rio Pará. A própria viagem, de umas duas horas, já era
uma aventura.
Ao contrário do
Outeiro, rústico e selvagem, Mosqueiro era uma vila muito descolada, cheia de
praias formosas, cada qual num estilo – Farol, Chapéu Virado, Murubira,
Ariramba, território das Bisi –, onde o creme do creme tinha casa.
Mas, para mim, em
qualquer uma delas o barato era caboquear, sair atrás de uma pipira, rebocar
pra dentro da água e, na medida do possível, transar. Quando você estava no
melhor, algum cretino gritava:
– Mãos ao alto!
O circuito das águas
também incluía aquilo que considero o requinte das orgias tropicais, um
programa que chamávamos de baque.
Rolava em volta das águas frias de piscinas formadas por uma pequena represa no
igarapé.
Como se sabe, as
mulheres dão uma goleada demográfica nos homens lá em Belém. Nesses baques, era
muito comum a proporção de três pra um, sem contar vantagem. E alguns davam
três sem tirar, mas também sem pôr.
Nessa modalidade, só
chegava a uma etapa superior de sacanalogia quem frequentava as intimidades das
damas nas chamadas pensões da rua 1° de Março, sobrados com azulejos
portugueses na fachada, todos com uma atmosfera muito doméstica.
A cafetina fazia sala
para a gente. Na vitrola, um Noite Ilustrada, um Lucho Gatica, um Bienvenido
Granda. E as garotas, que moravam ali mesmo, iam aparecendo naturalmente. E
naturalmente acabávamos no quarto.
Quando já éramos
íntimos, tínhamos a liberdade de tomar banho de cuia com elas no fundo da
pensão. Até chegar nesse estágio, muita água rolou debaixo da ponte desse rio.
Como eu ia dizendo,
sexo com as namoradas era uma impossibilidade. Sabíamos de um ou outro cara que
comia a namorada, mas a exceção apenas confirmava a regra.
Um dos casos mais
conhecidos era o do hoje ator Paulinho Leite, que transava com Marluce Silva,
uma versão paraense de Gisele Bündchen, ali por volta dos 15 anos.
Ele fazia parte dos Black Nights, a turma de playboys da
cidade, e era membro ativo da Esquadrilha
da Fumaça. O pai do avião, portuga dos bravos, não pensou duas vezes em
deportá-la para Lisboa quando viu a coisa séria. Imagine se soubesse que ela já
não era moça!
Os bailes davam uma
boa chance para o roça-roça-na-roça. Antes dos primeiros acordes do conjunto,
os mais precavidos iam ao banheiro e, depois de deixar o hi-fi ou a cuba-libre
num lugar seguro, ajeitavam o pau na posição que melhor lhes convinha.
Então iam tirar as
meninas nas mesas espalhadas em volta do imenso salão, geralmente em companhia
de toda a família. Uma inquietação assaltava todo mundo: e se ela desse
pau-na-testa, não quisesse dançar? Shame!
No salão, se a garota
deixava você trazer a mão dela ao seu peito, era sinal de que você podia chegar
mais lá embaixo.
Se ela mesma fosse
direto ao ponto, perigava ser da gloriosa classe das galinhas.
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