Por Luís Fernando Veríssimo
Envelhecer é chato, mas consolemo-nos: a alternativa é pior.
Ninguém que eu conheça morreu e voltou para contar como é estar morto, mas o
consenso geral é que existir é muito melhor do que não existir. Há dúvidas,
claro.
Muitos acreditam que com a morte se vai desta vida para
outra melhor, inclusive mais barata, além de eterna. Só descobriremos quando
chegarmos lá. Enquanto isto vamos envelhecendo com a dignidade possível, sem
nenhuma vontade de experimentar a alternativa.
Mas há casos em que a alternativa para as coisas como estão
é conhecida. Já passamos pela alternativa e sabemos muito bem como ela é. Por
exemplo: a alternativa de um país sem políticos, ou com políticos cerceados por
um poder mais alto e armado. Tivemos vinte anos desta alternativa e quem tem
saudade dela precisa ser constantemente lembrado de como foi.
Não havia corrupção? Havia, sim, não havia era investigação
para valer. Havia prepotência, havia censura à imprensa, havia a Presidência
passando de general para general sem consulta popular, repressão criminosa à
divergência, uma política econômica subserviente e um “milagre” econômico
enganador.
Quem viveu naquele tempo lembra que as ordens do dia nos
quartéis eram lidas e divulgadas como éditos papais para orientar os fiéis
sobre o “pensamento militar”, que decidia nossas vidas.
Ao contrário da morte, de uma ditadura se volta,
preferencialmente com uma lição aprendida. E, se para garantir que a
alternativa não se repita, é preciso cuidar para não desmoralizar demais a
política e os políticos, que seja. Melhor uma democracia imperfeita do que uma
ordem falsa, mas incontestável.
Da próxima vez que desesperar dos nossos políticos,
portanto, e que alguma notícia de Brasília lhe enojar, ou você concluir que o
país estaria melhor sem esses dirigentes e representantes que só representam
seus interesses, e seus bolsos, respire fundo e pense na alternativa.
Sequer pensar que a alternativa seria preferível – como tem
gente pensando – equivale a um suicídio cívico. Para mudar isso aí, prefira a
vida – e o voto.
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