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terça-feira, dezembro 17, 2019

A estreia do Áureo Petita no Peñarol de Itacoatiara



Luiz Lobão e Áureo Petita durante uma churrascada básica no Canto do Fuxico

Junho de 1981. O Peñarol vai enfrentar o Fast Clube, no estádio Floro Mendonça, em Itacoatiara, precisando vencer a partida para se classificar automaticamente para o quadrangular decisivo do campeonato amazonense daquele ano, sem depender de outros resultados.

Novo reforço do time, o meia-armador Áureo Petita, ex-Murrinhas do Egito, estreou contra o Sul América, no estádio da Colina, em Manaus, na semana anterior, fez um gol, deu passes para outros dois, foi escolhido o melhor jogador em campo e se transformou na grande esperança dos torcedores itacoatiarenses para essa nova partida. Ele vai jogar oficialmente na terra da Pedra Pintada pela primeira vez.

No vestiário, o quarto-zagueiro Lúcio Preto se aproxima do meia-armador e explica a situação:

– O nosso técnico acha que você ainda não está na sua forma física ideal e parece muito desnutrido. Aí ele me pediu para te dar essas vitaminas! É um composto de vitamina C, outro de complexo B, e outro de cálcio e selênio com sais minerais…

Inocente, puro e besta, Áureo Petita pega da mão do quarto-zagueiro as três pílulas, uma de cada cor, e engole com um copo d’água.

O estádio está completamente lotado. Quando o jogo começa, Áureo Petita já está na ponta dos cascos. Ele corre o campo inteiro, bate tiro de meta, cobra escanteio, tira lateral, dribla dois, três adversários, dá carrinhos, disputa bola de cabeça, divide bolas com zagueiros, tromba, dá balãozinho, dá chagão por baixo das pernas, dá o drible da vaca, enfim, está infernizando a defesa fastiana pra valer.

Em pé: Paulo César Dó, Simão Pessoa, Helvécio Nogueira, Sici Pirangy, Simas Pessoa e Argemiro Carneiro. Agachados: Lúcio Preto, Arlindo Jorge e Luiz Lobão. 
Na mesa, o casco de um tatu d’água com farofa de uairini

O jogo, entretanto, permanece zero a zero, apesar de ele já ter deixado o atacante Carioca na cara do gol umas quinze vezes e ter acertado duas bolas na trave.

No intervalo, enquanto seu time entra no vestiário, Áureo Petita permanece no campo, cada vez mais elétrico, dando uma volta olímpica atrás da outra e imprimindo maior velocidade em cada pique. A torcida do Peñarol vai ao delírio.

Mal a partida recomeça, Áureo Petita faz um lançamento dele para ele mesmo, mais ou menos do círculo central, onde pegou a bola, até a entrada da área do Fast Club, e desembesta a correr. Não dá outra. Ele ganha na corrida dos zagueiros, chega primeiro na bola do que o goleiro e enche o pé. A bola estufa o véu da noiva. Peñarol 1 a 0.

Dez minutos depois, Áureo Petita bate um escanteio na primeira trave, um zagueiro devolve de cabeça para fora da área, Áureo Petita sai correndo da bandeirinha de escanteio em direção à bola rebatida pelo zagueiro, quase na intermediária, e, sem deixar a bola cair, bate de voleio, com violência. A bola faz uma curva magnífica e estufa o véu da noiva, exatamente no ninho da coruja. Penarol 2 a 0. Na arquibancada, os torcedores fazem um verdadeiro carnaval.

O meia-armador está com a macaca. Ele continua correndo o campo todo, procurando pela bola, esteja ela onde estiver, como um cão faminto atrás de linguiça. Faltando cinco minutos para acabar o jogo, ele toma uma bola do ponta-esquerda fastiano Orange quase na entrada da área do Peñarol e volta com a bola correndo em direção ao gol fastiano.

Na sequência, dribla o volante Zé Luiz, dribla o meia-armador Mário Gordinho, dribla o volante Fabinho, se livra de um chute do zagueiro Marcão, dá um balãozinho no lateral direito Carlos Alberto, dribla o goleiro Ricardo, e rola a bola limpa para Carioca empurrar pro gol. Peñarol 3 a 0.

Mal o jogo termina, Áureo Petita sai correndo do campo direto para a concentração do clube, a cinco quilômetros do estádio. Ele troca de roupa rapidamente e sai correndo até o Bar do Jaime, no bairro da Colônia, a cinco quilômetros da concentração.

Passa dois dias e duas noites bebendo no boteco sem se levantar nem para urinar. Foi resgatado pelo zagueiro Lúcio Preto, que o levou de volta para a concentração, onde passou três dias dormindo.

Somente muitos anos depois, Áureo Petita ficou sabendo que em vez de vitaminas havia ingerido disbutal, panbenil e mandrix. Não necessariamente nesta ordem.

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