Isaías Leite furou a
fila em junho do ano passado. Tenho (temos) saudade
No começo dos anos 70, um novo playboy foi morar na Rua Tefé, quase no canto com a Rua Borba, para se transformar no único rival à altura do eterno playboy Odivaldo Guerra.
Com quase dois metros de altura, físico de halterofilista, boa pinta, bem-humorado, bom de papo e bom de porrada, Isaías Leite logo conquistou a admiração da rapaziada. O sujeito tinha um currículo cascudo.
Ainda adolescente, quando morava na Vila Municipal, começou a treinar judô até se transformar em faixa preta e conquistar vários títulos na categoria absoluto.
Quando serviu o Exército, aprendeu a lutar boxe.
O acupunturista que amenizava as indigestas dores de bico-de-papagaio que acometiam seu pai, o comerciante Manuel Leite, era o sansei Noroshi Shiranui, um dos descendentes de Mitsuyo Maeda, o famoso Conde Kano, introdutor do jiu-jitsu no Brasil a partir de Belém do Pará.
O acupunturista passou a ensinar jiu-jitsu para o Isaías.
Nos anos 60, Isaías morou no Rio de Janeiro, em companhia de Artur Virgílio Neto, e ficou íntimo da família Gracie.
Começou a tomar aulas de jiu-jitsu com Rickson Gracie, o maior lutador da história do esporte em todos os tempos.
Com pouco mais de um ano, já era um dos maiores “brigões” do Rio de Janeiro, fazendo parte da temida “Turma da Miguel Lemos”, de Copacabana.
– Técnica, você já tem de sobra! – explicou Rickson Gracie, após mais um treino. – Agora só precisa trabalhar a respiração. Você tem que ter fôlego para duas horas de porrada. Conseguindo isso, você vai ser invencível.
Isaías levou a sério o conselho do treinador.
Começou a praticar natação, mergulho, corrida, alpinismo, o diabo a quatro.
Transformou-se em uma máquina de guerra.
Quando se mudou para a Cachoeirinha, alguns anos depois, já era pau de dar em doido.
Ninguém encarava a fera.
Sua técnica era simples e infalível: ele voava nas pernas do oponente, dava uma “baiana”, fazia a montada e esfarelava a cara do sujeito de porrada.
Nenhuma luta durava mais de três minutos.
Um dia, Isaías foi convidado pela turma do Top Bar para participar de uma partida de futebol no campo do Fazendário.
Com aquele tamanho descomunal, 100 kg de puro músculo, ele iria meter medo tanto nos zagueiros adversários, se jogasse de centroavante, quanto nos atacantes adversários, se jogasse de zagueiro.
Antídio Weil escalou Isaías de ponta de lança.
Com cinco minutos de jogo, o ponta direita Ely Cafuringa, um baixinho super gente fina, toca uma bola pra ele na entrada da grande área, sai correndo em direção ao gol e começa a gritar:
– Mete pra mim, Zazá! Mete pra mim, Zazá!
Isaías deu um bico na bola pra fora do campo, encarou o Cafuringa e soltou os cachorros:
– Zazá é nome de filho de lavadeira, ô filho da puta! Me respeita! Meu nome é Isaías, caralho, Isaías! Eu não te conheço, porra, mas Zazá deve ser o nome da puta que te pariu! Entendeu, zé boceta? Meu nome é Isaías, corno manso, Isaías! Já aprendeu ou quer que eu te ensine na base da porrada?...
Tremendo mais do que vara verde, Cafuringa tentou consertar o estrago:
– Me desculpe, seu Isaías, me desculpe. Eu não sabia o seu nome aí perguntei pro doutor Vilson Benayon e ele me disse que era Zazá...
Isaías, mais puto ainda:
– É, zé boceta, continua acertando o teu ponteiro pelo relógio daquele Pacu de Bomba pra ver se eu não quebro vocês dois de porrada...
O destempero verbal do playboy foi crucial para que o novo apelido “pegasse”.
A partir desse dia, Isaías ficou conhecido para sempre como Zazá.
Era um figuraço!
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