Setembro de 1964. Paparicado na cidade inteira por conta de seu sucesso do ano anterior, “Manaus, Meu Paraíso”, o cantor Waldick Soriano iria se apresentar em uma noite de sábado, na sede do Orion Esporte Clube, deixando a mulherada da Cachoeirinha completamente alvoroçada.
Acompanhado de seu fiel escudeiro Helvécio Nogueira, o eterno playboy Odivaldo Guerra percebeu logo a excelente oportunidade de furar um couro e resolveu esticar sua “malhadeira” no salão do simpático clube.
Quando o cantor começou seu show de serestas, Guerra e Helvécio já estavam aboletados em uma das mesas na companhia de duas simpáticas potrancas. E tome birita.
Waldick Soriano iniciou sua cantoria com “Quem És tu?” e foi enfileirando um sucesso atrás do outro: “Só Você”, “Ninguém É De Ninguém”, “Dona Do Meu Coração”, “Mais Uma Desventura”, “Perdão Pela Minha Dor”, “Amor De Vênus”, “Sede De Amor”, “Renúncia”, “Fujo De Ti”, “Ciúmes”, “Tortura De Amor”, “Desunião”.
Duas horas depois, Guerra deu um toque para sua acompanhante, insinuando suas verdadeiras intenções:
– Meu amor, vamos sair um pouco e ficar mais à vontade?... Eu tenho um local ótimo pra gente curtir legal...
– Nem pelo caralho, meu filho, nem pelo caralho! – devolveu a potranca, já visivelmente “mamada”. – Eu só saio daqui depois que o Waldick Soriano terminar de cantar...
Nesse meio tempo, empolgado com a calorosa recepção, Waldick Soriano havia se sentado no piso de uma espécie de mezanino existente sobre o palco do clube e, municiado com uma garrafa de Cocal, continuava enfileirando um sucesso atrás do outros: “Manaus Meu paraíso”, “Homenagem A Recife”, “Amor Numa Serenata”, “Cantor Apaixonado”, “Vestida De Branco”, “Foi Deus”, “Errei Senhor”, “Pobre Do Pobre”, “Se Eu Morresse Amanhã”, “Motivos Banais”, “A Justiça De Deus”, “Tu És Meu Mundo”, “Pisa No Calo Dele”, “Enfim Você Voltou”, “Pensei Que Estava Sonhando”, “Eu Vou Ao Casamento Dela”, “A Maior Injustiça Do Mundo”, etc.
Duas horas depois, percebendo que se não tomasse uma atitude a vaca, ou melhor, a potranca iria pro brejo, Guerra não se conteve.
Se levantou da mesa e começou a gritar, feito um alucinado:
– Já chega, porra, já chega! Para de cantar, caralho! Encerra a merda desse show que eu preciso ir embora...
Quase foi linchado pela multidão de fãs do seresteiro.
Waldick Soriano não deu a mínima e continuou cantando até o dia amanhecer. A potranca também não arredou o pé da mesa. O eterno playboy foi embora pra casa sozinho.
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