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terça-feira, dezembro 24, 2019

A saga do Mestre Caramuru (Final)



Careca Selvagem, Caramuru Souza e Juarezinho Tavares

Em 1966, durante uma visita a Santarém, Caramuru encontrou novamente o jogador Leopoldo, que o convidou para jogar em um novo time da cidade, o Conser Clube, criado exclusivamente para desbancar os grandes clubes de Santarém no campeonato da 1ª divisão.

Os cartolas do novo clube contrataram uma verdadeira seleção: Aldo, Leopoldo, Cojoba, Pedro Olaia, Tarubá, Leopoldino, Joseli, Abdala e Caramuru, entre outros.

No primeiro turno do campeonato, o time foi a grande sensação, aplicando sonoras goleadas em todos os adversários.

Esbanjando talento e categoria, Caramuru e Abdala davam as ordens no meio de campo.

O Conser era um time invejável, com uma defesa segura, um meio de campo impecável e um ataque arrasador.

No segundo turno, entretanto, o time novato começou a ser boicotado pelos juízes nas partidas contra os chamados “clubes de tradição” (São Raimundo, São Francisco, América, etc.), sendo “tungado” desavergonhadamente na maior cara dura.

Irritados com a escandalosa roubalheira, denunciada diariamente pela imprensa falada e escrita, os cartolas do Conser Clube resolveram radicalizar e abandonaram a competição na metade do 2º turno.

De repente, da noite para o dia, vários craques ficaram desempregados.

Caramuru era um deles.

Desgostoso com aquela série de acontecimentos, ele resolveu abandonar o futebol e se mandou de Santarém.

O cartola Everaldo Martins foi buscar o craque na comunidade da Prainha e o levou para o São Raimundo.

Começava assim a sua nova trajetória.

O time alvinegro estava fazendo uma série de amistosos e Caramuru foi sendo testado nesses jogos.

O volante rapidamente se entrosou com seus novos companheiros.

Sua estreia foi contra o Sport Clube Bahia, de Sapatão, Baiaco, Romero e companhia.

O São Raimundo fez uma boa apresentação e começou a nascer o grande destaque no meio de campo, que ficaria marcado para sempre na memória de sua torcida: Caramuru e Amiraldo.

A equipe que enfrentou o clube baiano era formada por Genésio, Pedro Nazaré, Inacinho, Ricardo e Javali; Caramuru e Amiraldo; Manoel Maria, Mazinho, Nazareno e Espadim.

O volante e o meia armador deixaram o campo aplaudidos de pé pela torcida.

Na partida seguinte, foi a vez do São Raimundo enfrentar o São Cristóvão, do Rio de Janeiro.

Outro espetáculo de Caramuru no meio de campo alvinegro.

Os jogadores cariocas ficaram de boca aberta ao ver a beleza do grande futebol interiorano, com tanto atleta bom de bola (o ponta direita Manuel Maria chegaria ao Santos e depois à seleção brasileira).

Para o craque Caramuru, aquele foi um período de ouro, já que ele pode mostrar todo o seu grande talento enfrentando vários clubes do Sul do país e jogadores de alta categoria.

Para completar a satisfação do craque, apareceu outro adversário do Rio de Janeiro, o América, de Edu e Antunes, ambos irmãos de Zico.

Foi outra oportunidade de jogar com muita garra e mostrar novamente o seu talento.

Finalmente, o São Raimundo enfrentou o Flamengo, que trouxe em sua bagagem vários craques de renome como Ditão, Carlinhos, Nelsinho, Almir Pernambuquinho e Fio Maravilha.

– Foi uma partida inesquecível! – recorda Caramuru. – Perdemos, mas saímos de campo de cabeça erguida porque demostramos que em Santarém também se jogava bola.

Como aquele foi um jogo especial para Caramuru, ele relembra as duas equipes que se confrontaram no estádio Elinaldo Barbosa, superlotado de torcedores.

O São Raimundo formou com Genésio, Pedro Nazaré, Inacinho, Ricardo e Javali; Caramuru e Amiraldo; Manoel Maria, Mazinho, Nazareno e Pedro Olaia.

O time do Flamengo formou com Marco Aurélio, Luiz Luz, Ditão, Clair e Dione; Carlinhos e Nelsinho; Carlinhos II, Fio Maravilha, Almir Pernambuquinho e Antunes.



No mesmo ano de 1966, Caramuru ganhou o seu primeiro título pelo São Raimundo.

Depois de o América ter dado um show de bola em cima dos dois grandes, Leão Azul (São Francisco) e Pantera Negra (São Raimundo), e ter conquistado o campeonato de 1965, o São Raimundo voltou a ser campeão em cima de seu maior adversário, o São Francisco, com o futebol espetacular de Caramuru e de toda a sua equipe.

O Leão Azul tinha um bom time, mas não resistiu ao domínio dos alvinegros.

Uma das grandes armas do Leão já tinha ido embora, o centroavante Afonso, monte alegrense da gema (ele foi jogar no Clube do Remo, em Belém, e depois foi bicampeão do futebol amazonense pelo Fast Club, fazendo dupla com Edson Piola).

Mesmo assim não era fácil ganhar uma decisão contra o Leão Azul. Mas o Pantera Negra levou a melhor e foi campeão em 1966.

O São Raimundo tinha um excelente plantel: Genésio e Surdão (goleiros), Pedro Nazaré, Piraca, Inacinho, Ricardo Santos, Javali, Chico Cutite, Caramuru, Abdala, Amiraldo, Arinos, Manoel Maria, Caveirinha, Escapulário, Nazareno, Mazinho, Pedro Olaia e Espadim, entre outros.

Como perder com um timaço desse?

O São Francisco formava com Carlito, Guajará, Pedrinho Araújo, Jô e Acari; Pão Doce e Chico Imbiriba; Cabinha, Edvar, Bimba e Navarrinho.

Esta decisão aconteceu quando o futebol santareno era de fato respeitado pelo nível de qualidade de seus talentosos jogadores.

Caramuru ainda ficou jogando no São Raimundo até 1968. Depois retornou para Fordlândia.

Em virtude de metade de sua família já estar morando em Manaus, o craque retornou para a capital amazonense, onde foi trabalhar na Universidade Federal do Amazonas.

Nas horas vagas, a sua pelada era sagrada.

Caramuru fixou residência em Manaus, no bairro de São Francisco, mas, sempre que pode, viaja de férias para Fordlândia, sua terra natal, e para Santarém, cidade que o recebeu de braços abertos e que até hoje lhe devota um grande carinho.

Ele continua torcendo de longe pelo São Raimundo e tem lembranças inesquecíveis do saudoso Everaldo Martins, o cartola alvinegro responsável pela sua carreira no clube.

Casado com dona Terezinha, Caramuru vive em grande harmonia com seus filhos, todos casados e “peladeiros” contumazes: Marcos, Paulo, Zanata e Elton.

O gente-fina Marcos é presidente vitalício do Santos, um dos grandes times amadores de São Francisco.

Paulo Caramuru, engenheiro mecânico da Eletronorte, além de peladeiro é um partideiro de responsa.

Elton, o mais tranquilo dos quatro, é dono de uma distribuidora de bebidas e também se defende bem em um partido alto.

Vascaíno sadio, Zanata é a ovelha negra em uma família de flamenguistas doentes.

Ele foi batizado com o nome do craque flamenguista, mas quando começou a se interessar por futebol o ex-craque flamenguista já jogava no Vasco.

Zanata, claro, trocou de camisa.

Acontece.

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