Em pé: Julio Almeida, Kepler Evandro (“Kepelé”), Petrônio Aguiar, Almir
Português, Walter Doido, Heraldo Cacau, Gilmar Velhote, Simão Pessoa, Chico
Porrada e Mestre Louro. Agachados: Gilson Cabocão, Nilton Torres, Marco
Aurélio, Luiz Lobão, Azamor Bobô e Carlito Bezerra
Brilhante meia-armador do
Náutico (onde jogou ao lado de Sici Pirangy, Luiz Lobão e Manuel Augusto) e do
fabuloso Murrinhas do Egito (onde jogou comigo, Luiz Lobão e Petrônio Aguiar),
o endiabrado Marco Aurélio foi outro excelente jogador de futebol da
Cachoeirinha que nunca quis jogar profissionalmente.
Seu negócio era jogar
sinuca. Chegou a participar de campeonatos no sul do país, enfrentando feras
como Carne Frita e Rui Chapéu. Ficou conhecido como Louro do Pezão.
Em março de 1978, numa
tarde de sábado, quando ainda estava em casa se preparando para um jogo do
Náutico pelo campeonato amador, Marco Aurélio foi surpreendido pela chegada
intempestiva de Nei Parada Dura.
– Meu parceiro, descobri
um monte de patos pra você depenar! – disparou Nei Parada Dura. – Pega teus
tacos e vamos lá fazer a feira!
– Pô, Nei, hoje não vai
dar não, porque daqui a pouco eu vou fazer um jogo decisivo pelo Náutico… –
explicou Marco Aurélio.
– Qualé, parceiro? No
Náutico você não ganha um tostão. Sois agora um novo milionário que não gosta
mais de ganhar dinheiro não, é?… – devolveu Nei Parada Dura. – Deixa de onda,
rapá, que eu vou apostar no teu taco. Nós dois vamos lavar a burra porque não é
todo dia que a gente encontra leite de pato dando sopa…
Diante de argumentos tão
convincentes, Marco Aurélio apanhou sua caixa de tacos desmontáveis, embarcou
no carro de Nei Parada Dura e os dois se mandaram para um boteco localizado em
Petrópolis, nas proximidades do Batalhão da Polícia Militar.
Uns 20 sujeitos estavam no
boteco jogando “carambola”, na modalidade ganha-chama: partidas individuais, um
contra um, quatro bolas vermelhas contra quatro bolas amarelas, com todas as
bolas funcionando como “ponteiras”.
As bolas são armadas no
campo de cada jogador. Duas bolas coladas na parte horizontal da sinuca e uma
bola colada em cada lado vertical da mesa. Cada um joga uma vez. Se matar uma bola,
continua jogando. Se errar, cede a vez ao outro. Vence quem primeiro encaçapar
todas as bolas do adversário.
Enquanto bebiam uma
cerveja, Marco Aurélio e Nei Parada Dura ficaram apenas observando o jogo dos
sujeitos.
Os jogadores eram mesmo
amadores. Na maioria das vezes, se limitavam a atacar e defender com as duas
bolas das verticais, cada qual empurrando a bola do adversário para a caçapa
mais próxima.
Umas dez rodadas depois, o
sujeito que havia vencido a partida perguntou se eles não queriam participar do
jogo. A “casada” era de R$ 20 por cabeça. Nei Parada Dura disse que ia apostar
no taco de seu amigo. A aposta foi casada.
Marco Aurélio abriu a
caixa de ferramentas, atarraxou um taco especial com ponta de sola francesa,
passou giz na ponta do taco e entrou no ringue.
Na primeira jogada que
fez, ele meteu um efeito tão invocado na sua ponteira que simplesmente descolou
todas as quatro bolas do adversário.
Na segunda jogada, matou
uma por uma todas as bolas.
Aboletado em uma mesa a
poucos metros da sinuca, um aleijadinho, que aparentemente era o líder da
turma, ficou encrespado.
Enquanto pagava a casada
para Nei Parada Dura, ele lançou o desafio:
– Isso é sorte de amador.
Eu quero ver o seu amigo derrotar o Crispim. E também quero dobrar a casada!
Nei Parada Dura topou o
desafio.
Eu e o Louro do Pezão no Bar do Jacó
Crispim entrou na mesa e
Marco Aurélio, que como havia vencido a partida anterior tinha direito à
primeira tacada, repetiu a brincadeira.
As quatro bolas do sujeito
foram descoladas como num passe de mágica.
Crispim deu apenas uma
tacada, tentando defender uma de suas bolas que estava quase na caçapa.
Na segunda tacada, Marco
Aurélio matou uma por uma todas as bolas do sujeito.
Cada vez mais puto, o
aleijadinho ia convocando sua tropa de choque (Militão, Zé da Burra, Onofre,
Palhinha, Baiano, Mundico, Sarará, Magaiven, Ceará, Benedito, Sabazinho e o
diabo a quatro), enquanto Marco Aurélio ia jantando um por um e Nei Parada Dura
não parava de ganhar dinheiro.
Lá pela vigésima partida,
o aleijadinho não se conteve.
Ele se levantou da sua
mesa e saiu andando apressadamente, com uma das pernas balançando no estilo
“deixa-que-eu-chuto”, em direção à sinuca.
Aí, se debruçou sobre a
mesa pelo lado oposto ao de Marco Aurélio, que pacientemente passava giz na
ponta do taco esperando um novo adversário.
O aleijadinho olhou para o
chão, mediu mentalmente a sandália Franciscana do jogador, depois olhou para a
cara de Marco Aurélio, balançou a cabeça afirmativamente como se dissesse “é
você, né, seu filho da puta?” e gritou para seus comandados, que também estavam
passando giz nas pontas dos tacos cada vez mais dispostos a se vingar das
derrotas humilhantes:
– Podem parar! Podem
parar! Esse desgraçado aqui é o Louro do Pezão, que já derrotou até o Rui Chapéu…
Ele é jogador profissional e vai nos comer pelas canelas até a gente ficar
completamente liso…
Antes que Marco Aurélio
abrisse a boca, Nei Parada Dura já estava lhe enfiando dentro do carro e caindo
fora do boteco, levando no bolso mais de R$ 800 de “leite de pato”.
O Louro do Pezão era foda.
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