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sábado, dezembro 21, 2019

Arlindo Jorge e o tecladista do Bar Maresia



Julho de 1996. Mortos de doidos, Arlindo Jorge, Vladimir Brother, João Cachorro e mais dois amigos entram no Bar Maresia, localizado em frente da Igreja de Santa Rita, para tomar a saideira e forrar o bucho.

O dia está quase amanhecendo e, no boteco, apenas alguns boêmios retardatários estão dançando animadamente ao som de uma orquestra de um homem só, o pianista Zé Bonitinho e seu vistoso teclado eletrônico.

Eles ocupam duas mesas e chamam a garçonete.

  Vocês têm isca de que? – indaga Arlindo Jorge.

  Infelizmente, já acabou tudo! – devolve a garçonete, passando um pano imundo nas mesas.

  Então me traz duas cervejas geladas, cinco copos e cinco carteiras de Carlton!

– Cinco carteiras de Carlton?! – estranhou a garçonete.

– Sim, minha filha, uma carteira pra cada um! Aqui ninguém pede cigarro um do outro... – devolveu Arlindo Jorge.

A garçonete providenciou a presepada.

Dali a pouco, tirando gosto com cigarro, os boêmios começaram a detonar uma nova grade de cerveja.

Lá pelas tantas, impressionado com o malabarismo que Zé Bonitinho fazia no teclado eletrônico, Arlindo Jorge, como se fosse um zumbi, se aproximou do pianista, ficou observando em silêncio e, de repente, segurou e levantou pelos pulsos as duas mãos do pianista do teclado.

O som continuou rolando do mesmo jeito.

Ainda segurando o pianista pelos pulsos, Arlindo Jorge se virou para os companheiros de mesa e contou o truque:

  Esse zé ruela não toca porra nenhuma não! As músicas são pré-gravadas. Ele fica aqui só fazendo o agarol do agamenon...

Zé Bonitinho, ainda com as duas mãos imobilizadas, ficou puto:

  Qualé, mermão, está querendo me desempregar?... Está querendo me desempregar?...

Se a garçonete não tivesse intervido e levado Arlindo Jorge de volta pra mesa, o falso pianista teria entrado na porrada pra aprender a não enganar zumbies embriagados em estado terminal.

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