Julho de 1996. Mortos de doidos, Arlindo Jorge, Vladimir Brother, João Cachorro e mais dois amigos entram no Bar Maresia, localizado em frente da Igreja de Santa Rita, para tomar a saideira e forrar o bucho.
O dia está quase amanhecendo e, no boteco, apenas alguns boêmios retardatários estão dançando animadamente ao som de uma orquestra de um homem só, o pianista Zé Bonitinho e seu vistoso teclado eletrônico.
Eles ocupam duas mesas e chamam a garçonete.
– Vocês têm isca de que? – indaga Arlindo Jorge.
– Infelizmente, já acabou tudo! – devolve a garçonete, passando um pano imundo nas mesas.
– Então me traz duas cervejas geladas, cinco copos e cinco carteiras de Carlton!
– Cinco carteiras de Carlton?! – estranhou a garçonete.
– Sim, minha filha, uma carteira pra cada um! Aqui ninguém pede cigarro um do outro... – devolveu Arlindo Jorge.
A garçonete providenciou a presepada.
Dali a pouco, tirando gosto com cigarro, os boêmios começaram a detonar uma nova grade de cerveja.
Lá pelas tantas, impressionado com o malabarismo que Zé Bonitinho fazia no teclado eletrônico, Arlindo Jorge, como se fosse um zumbi, se aproximou do pianista, ficou observando em silêncio e, de repente, segurou e levantou pelos pulsos as duas mãos do pianista do teclado.
O som continuou rolando do mesmo jeito.
Ainda segurando o pianista pelos pulsos, Arlindo Jorge se virou para os companheiros de mesa e contou o truque:
– Esse zé ruela não toca porra nenhuma não! As músicas são pré-gravadas. Ele fica aqui só fazendo o agarol do agamenon...
Zé Bonitinho, ainda com as duas mãos imobilizadas, ficou puto:
– Qualé, mermão, está querendo me desempregar?... Está querendo me desempregar?...
Se a garçonete não tivesse intervido e levado Arlindo Jorge de volta pra mesa, o falso pianista teria entrado na porrada pra aprender a não enganar zumbies embriagados em estado terminal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário