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quarta-feira, dezembro 11, 2019

O Cliente Golden do Dr. Menescal



O farmacêutico Francisco Menescal Filho herdou a drogaria do pai, também farmacêutico, no início dos anos 70. Localizada no canto da Rua J. Carlos Antony com a Avenida Carvalho Leal, em frente ao Posto de Gasolina LM, a Drogaria Menescal se transformou rapidamente na Meca dos cristãos-novos recém-iniciados em doenças venéreas.

Bonachão, prestativo e homossexual enrustido, Dr. Menescal tinha na ponta da língua a cura para todos os males, de gonorreia a cancro mole, de cavalo de crista a esquentamento:

– Dois tetrex de 500 mg, uma dose de manhã outra de tarde, durante sete dias… Não coma nada reimoso e evite as frutas cítricas como laranja, tangerina e limão… Nada de comida pesada, está ouvindo?… Pescadinha branca, em água e sal, ou grelhada, até parar de sair secreção do moço…

Em caso de recidiva da doença, ele era peremptório:

– Uma injeção de benzetacil de 4.800.000 unidades de três em três dias durante duas semanas… Não coma nada reimoso e evite as frutas cítricas como laranja, tangerina e limão… Nada de comida pesada, está ouvindo?… Pescadinha branca, em água e sal, ou grelhada, até parar de sair secreção do moço…

As injeções eram aplicadas por Valdir Corrêa, Gaudêncio Neto ou Edy Silva, todos eles balconistas da drogaria.

O putanheiro Nego Walter era Cliente Golden do Menescal e, praticamente, foi contemplado com todas as doenças venéreas existentes naquela época. É um sobrevivente.

De quinze em quinze dias, sempre na segunda feira pela manhã, Nego Walter batia ponto na drogaria.

Era atendido pessoalmente pelo Dr. Menescal numa salinha reservada, nos fundos do estabelecimento.

Nego Walter apresentava as armas. O farmacêutico examinava detidamente o equipamento avariado, receitava o tratamento, entregava um recibo nas mãos do paciente e avisava:

– Vá lá no caixa, pague essa importância e volte aqui!

Como a drogaria estava sempre cheia de gente, Nego Walter implorava:

– Dr. Menescal, pelo amor de Deus, seja discreto e fale baixo a respeito do meu problema…

Assim que Nego Walter saía da salinha e se dirigia ao caixa, Dr. Menescal dava um berro, que dava pra ser ouvido no bairro inteiro:

– Waldir Corrêa, recebe essa mixaria aí no caixa! Edy Silva prepara uma benzetacil de 4.800.000 unidades, que o cliente pegou uma gonorreia de gancho!

Nego Walter não sabia onde se esconder.

Ressabiado, acabou se transformando em Cliente Vip da Farmácia Nunes, no centro da cidade, onde não era muito conhecido.

Falando nisso, peço vênia às senhoras que inadvertidamente estejam frequentando estes escritos, mas o assunto seguinte, a despeito do seu teor chocante, faz mais parte da história dos tempos de antanho do que possam supor seus vãos recatos: a gonorreia.

Os nossos jovens putanheiros que, tangidos pela doce onda da permissividade, contraíram e disseminaram a famosa gonorreia na Cachoeirinha, deveriam esculpir com as próprias unhas a cabeça de sir Alexander Fleming na Pedreira do Tarumã – à maneira do Monte Rushmore, nos EUA.

Por sua causa, hoje em dia, o gonococo está mais desmoralizado do que os ideólogos do mensalão e os trambiqueiros da Lava Jato.

Antes da penicilina, a gonorreia simples era tratada (curada, jamais!) com recursos patenteados pelo demônio: lavagens de uretra com permanganato de potássio, nitrato de prata e até Lugolina, cujos primeiros anúncios do produto ressaltavam, entre outros atributos, a sua eficiência no tratamento das manchas na pele provocadas pelas “bexigas”, denominação da época para a varíola.

Isso durante seis meses a um ano, semanalmente.

Depois, o Capiroto em pessoa arrematava o serviço com a sonda Binoquet, um alargador de uretra cujo gabarito ia da grossura do dedo mínimo ao do dedo indicador.

Eu disse gonorreia simples, porque tinha a de gancho.

Esta curvava o pinto do artista para cima, obrigando-o a urinar no próprio umbigo.

Tratava-se a gonorreia de gancho com martelo, malhando a frio a peça ensandecida até retificá-la, como quer e fez a mãe Natureza.

A anestesia era berro, palavrão e blasfêmia.

A penicilina, descoberta por sir Alexander Fleming e depois comercializada como benzetacil, colocou um fim nessa tortura medieval.

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