Antídio Weil e Carlito Bezerra
Abril de 1973. Funcionário
do DER-AM, o boa-praça Carlito Bezerra (aka “Dr. Rayol”) havia acabado de se
despedir da namorada, no Bodozal da Maués, e ia passando pela frente da casa do
Luiz Lobão por volta da meia-noite do sábado de Aleluia.
Ao perceber uma agitação
sem precedentes envolvendo umas 30 pessoas do outro lado da rua, quase na
frente da residência do Gilson Cabocão, ele se aproximou para saber do que se tratava.
Foi quando notou a
existência de um gigantesco panelão fumegante, de onde saía um doce aroma de
comida bem temperada. Carlito Bezerra abriu um sorriso que iluminou a noite: os
moleques da rua estavam detonando uma galinhada de respeito, por conta da
bem-sucedida roubalheira de oito “penosas” da vizinhança ocorrida algumas horas
antes.
Carlito não se fez de
rogado. Apanhou um prato na mesa improvisada no terreiro da residência, puxou
uma cadeira e meteu bronca. Comeu que se lambuzou.
Aquela era a mais
fantástica “galinha à cabidela” que ele já tinha comido na vida, segredou pra
Luiz Lobão, depois de ter repetido o prato por três vezes e dado os trâmites
por findos.
Ficou tão satisfeito que
nem quis esperar pelo cordeiro assado no molho de hortelã, que estava indo pro
fogo no quintal do Marcos Pombão naquele mesmo instante.
Na sequência, a molecada
ainda ia detonar um leitãozinho à pururuca e uma buchada de cabrito, que a
roubalheira tinha sido grande.
Por volta das seis horas
da manhã do dia seguinte, no domingo de Páscoa, Carlito estava batendo
freneticamente na porta da casa do Luiz Lobão. Ainda sonolento da ressaca da
noite anterior, Luiz Lobão abriu a porta e levou um susto.
Completamente
transtornado, Carlito estava armado com uma gigantesca faca de cozinha e queria
sangue:
– Eu quero saber o nome do
filho da puta que roubou todas as galinhas da mamãe! Isso é putaria! Me diz
quem foi! Me diz quem foi, que eu vou acabar com a raça desse desgraçado agora
mesmo! – ameaçou Carlito, com os olhos faiscando de ódio.
– Calma, Carlito, calma! –
tentou contemporizar Luiz Lobão. – Como é que eu vou saber o nome de quem
roubou as galinhas da tua mãe? O pessoal me entregou os bichos já depenados, eu
só fiz preparar os temperos e cozinhar…
– Mas isso é putaria, Lobão,
isso é putaria! Foram roubar logo as galinhas da mamãe… Ela ainda não parou de
chorar até agora… Eu vou descobrir quem foi o filho da puta e vou matar!
– Porra, Carlito, eu não
entendo por que você está com tanta raiva desse jeito! – devolveu Luiz Lobão. –
Ontem à noite, você repetiu o prato umas três vezes e disse que era a melhor
galinha à cabidela da tua vida. Quem tira proveito do roubo também é conivente
com o crime…
Luiz Lobão quase levou uma
facada no bucho por causa da ironia, mas os ladrões de galinha nunca foram
identificados.
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