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terça-feira, dezembro 17, 2019

Galinha à Cabidela no Sábado de Aleluia



Antídio Weil e Carlito Bezerra

Abril de 1973. Funcionário do DER-AM, o boa-praça Carlito Bezerra (aka “Dr. Rayol”) havia acabado de se despedir da namorada, no Bodozal da Maués, e ia passando pela frente da casa do Luiz Lobão por volta da meia-noite do sábado de Aleluia.

Ao perceber uma agitação sem precedentes envolvendo umas 30 pessoas do outro lado da rua, quase na frente da residência do Gilson Cabocão, ele se aproximou para saber do que se tratava.

Foi quando notou a existência de um gigantesco panelão fumegante, de onde saía um doce aroma de comida bem temperada. Carlito Bezerra abriu um sorriso que iluminou a noite: os moleques da rua estavam detonando uma galinhada de respeito, por conta da bem-sucedida roubalheira de oito “penosas” da vizinhança ocorrida algumas horas antes.

Carlito não se fez de rogado. Apanhou um prato na mesa improvisada no terreiro da residência, puxou uma cadeira e meteu bronca. Comeu que se lambuzou.

Aquela era a mais fantástica “galinha à cabidela” que ele já tinha comido na vida, segredou pra Luiz Lobão, depois de ter repetido o prato por três vezes e dado os trâmites por findos.

Ficou tão satisfeito que nem quis esperar pelo cordeiro assado no molho de hortelã, que estava indo pro fogo no quintal do Marcos Pombão naquele mesmo instante.

Na sequência, a molecada ainda ia detonar um leitãozinho à pururuca e uma buchada de cabrito, que a roubalheira tinha sido grande.

Por volta das seis horas da manhã do dia seguinte, no domingo de Páscoa, Carlito estava batendo freneticamente na porta da casa do Luiz Lobão. Ainda sonolento da ressaca da noite anterior, Luiz Lobão abriu a porta e levou um susto.

Completamente transtornado, Carlito estava armado com uma gigantesca faca de cozinha e queria sangue:

– Eu quero saber o nome do filho da puta que roubou todas as galinhas da mamãe! Isso é putaria! Me diz quem foi! Me diz quem foi, que eu vou acabar com a raça desse desgraçado agora mesmo! – ameaçou Carlito, com os olhos faiscando de ódio.

– Calma, Carlito, calma! – tentou contemporizar Luiz Lobão. – Como é que eu vou saber o nome de quem roubou as galinhas da tua mãe? O pessoal me entregou os bichos já depenados, eu só fiz preparar os temperos e cozinhar…

– Mas isso é putaria, Lobão, isso é putaria! Foram roubar logo as galinhas da mamãe… Ela ainda não parou de chorar até agora… Eu vou descobrir quem foi o filho da puta e vou matar!

– Porra, Carlito, eu não entendo por que você está com tanta raiva desse jeito! – devolveu Luiz Lobão. – Ontem à noite, você repetiu o prato umas três vezes e disse que era a melhor galinha à cabidela da tua vida. Quem tira proveito do roubo também é conivente com o crime…

Luiz Lobão quase levou uma facada no bucho por causa da ironia, mas os ladrões de galinha nunca foram identificados.

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