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segunda-feira, dezembro 23, 2019

Lúcio Preto e a arte de não pagar a conta em botequim



O comerciante Selmo Nogueira e o garçom Marcha Lenta, no Caxuxa

Nos anos 70, o Bar do Caxuxa, do comerciante Selmo Nogueira, era parada obrigatória dos boêmios manauaras por conta das excelentes sopas, sanduíches, sucos e batidas vendidas no local.

Pelo menos uma vez por mês, Lúcio Preto costumava adentrar no boteco por volta da meia-noite, acompanhado por meia dúzia de mulheres já completamente “mamadas”.

Na condição de senhor absoluto do harém, ele pedia sanduíches de todos os tipos, sucos variados, batidas de frutas de época e encerrava a fuzarca com uma rodada de sopas em cumbucas de porcelana.

As mulheres se fartavam à tripa forra.

Lá pelas tantas, ele solicitava a uma das meninas que lhe desse um fio de cabelo, que ele iria mostrar como era capaz de sair do boteco sem pagar a conta.

Curiosas, elas sempre obedeciam.

Lúcio Preto pegava o fio de cabelo e colocava dentro de qualquer cumbuca que ainda contivesse um pouquinho de sopa.

Na hora de pagar a despesa, ele chamava o Selmo em particular, exibia a cumbuca e chutava de bico:

– Porra, Selmo, eu encontrei um cabelo cheio de lêndeas aqui dentro. Se você me cobrar alguma coisa, vou fazer um escândalo da porra aqui no bar denunciando a falta de higiene dessa merda e duvido que alguém ainda venha lanchar aqui...

Constrangido, Selmo limitava-se a recolher os pratos sujos e rasgar a conta.

As mulheres ficavam tão felizes que só faltavam abrir as pernas pro Lúcio Preto ali mesmo.

Um dia, inquirido pelo Mário Adolfo por que não dava um basta naquele truque velho e manjado, Selmo abriu o jogo.

– É que de vez em quando a luz vai embora e o pessoal aproveita a escuridão pra tentar me dar um xexo generalizado. Mas quando o Lúcio Preto está na área, ele dá logo um grito: “Se alguém sair do bar, eu vou dar um tiro no meio da bunda!”. Como todo mundo sabe que ele é mesmo doido, ninguém se atreve a arredar o pé até a luz voltar. Daí que a grana que eu economizo sem levar xexo nessas ocasiões é suficiente para pagar essas lambanças dele, realizadas uma vez por mês. Mas o teatrinho precisa ser feito para ele impressionar o mulherio, sair sem pagar e ainda me fazer passar por otário... Faz parte do jogo!

Se um dia morrer, Selmo Caxuxa vai pro céu. Papo sério.

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