Janeiro de 1988.
Responsável pela confecção dos carros alegóricos do GRES Andanças de Ciganos, o
engenheiro Chico Costa chamou um ajudante de ordem no barracão e foi
peremptório:
– Zé Bernaldo, pega essa
trena e vai lá na Djalma Batista medir a largura da avenida, que o nosso último
carro alegórico vai revolucionar o carnaval de Manaus…
O sujeito foi, fez a
medição solicitada e retornou uma hora depois:
– Medi de ponta a ponta
duas vezes. Tem 16 metros!
Chico Costa fez os
cálculos:
– Deixando uma folga de
dois metros para cada lado, dá para fazer um carro alegórico com 12 metros de
largura e 20 metros de extensão. Mãos à obra, moçada!
Em um mês, o carro
alegórico estava pronto. Era um colosso inimaginável. Todo o lendário amazônico
(curupira, mapinguari, iara, boto tucuxi, juma, cobra grande, lagarta de fogo,
etc) estava presente no carro alegórico, em seu máximo esplendor, por meio de alegorias
gigantescas executadas pessoalmente pelo mago Jair Mendes.
Foi preciso duas carretas
de três eixos para transportar o carro alegórico do barracão para o início da
Av. Djalma Batista, numa operação de guerra que envolveu o Corpo de Bombeiros,
Detran, Polícia Militar, Defesa Civil, Médicos Sem Fronteiras, Greenpeace e o
Exército da Salvação Nacional.
Na entrada da avenida, uma
surpresa: a colocação de arquibancadas dos dois lados da pista havia
“encolhido” a passarela do samba em seis metros.
É que o ajudante de ordens
do Chico Costa, o famoso Zé Bernaldo, havia medido a avenida de ponta a ponta,
isto é, de uma sarjeta a outra, sem se dar conta desse pequeno detalhe das
arquibancadas.
Para o gigantesco carro
alegórico entrar na avenida seria necessário serrar dois metros de cada lado de
sua base fixa.
Chico Costa refez os
cálculos e explicou timidamente aos dirigentes da escola, que queriam comer seu
fígado:
– A base do carro foi
feita de pau de ferro. Mesmo que a gente arrume uma serra elétrica de última
geração, nós vamos levar duas horas para serrar esses 20 metros de cada lado do
carro e até lá a escola já desfilou. Melhor deixar essa porra aqui mesmo…
E assim foi feito. O
gigantesco carro foi abandonado na área de concentração, deixando o mago Jair
Mendes à beira de um ataque de nervos.
O responsável pela
lambança, Zé Bernaldo, foi demitido sumariamente da escola, à base de
pescoções, e nunca mais colocou os pés no barracão.
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