Simas Pessoa, Walter Meio Quilo e Jairo Carramanho no Bar do Jacó
Demitido da fábrica da
Samsung durante um processo de reengenharia na empresa, o invocado Walter Meio
Quilo utilizou a grana da indenização para mobiliar a residência: comprou jogo
de estofado, ar condicionado Split, tevê a cores, CD Player, forno de
micro-ondas, etc.
Não satisfeito, montou uma
fábrica artesanal de dindim exclusivamente para manter sua cara-metade ocupada,
escreveu numa tabuleta “vendi-si didim” (ortografia nunca foi seu forte
mesmo!), afixou na frente da casa e deu os trâmites por findos no âmbito
doméstico.
Com o resto da grana que
sobrou, ele caiu na gandaia. Passou a farrear noite e dia, de domingo a
domingo, chovesse ou fizesse sol.
As vendas de dindim de
açaí, graviola, taperebá, acerola e cupuaçu estavam de vento em popa, mas a
esposa do Meio Quilo começou a ficar injuriada com a ausência do consorte no
leito conjugal.
Para abrir a porta dos
fundos e deixar o Ricardão entrar foi um passo. Para expulsar Meio Quilo de
casa, também.
Ele foi embora levando
apenas a roupa do corpo e um inseparável relógio de pulso, presente de sua mãe.
Uns dois meses depois de
ter sido expulso sumariamente de sua própria residência, Walter Meio Quilo
estava lambendo suas feridas em um boteco, na companhia de Marlon, Charles
Olhão, Geraldo Neto, Cley, Newton Melo e Luiz Lobão.
Em vez de dar apoio moral
ao indigitado, os vagabundos preferiram exigir que Meio Quilo tomasse uma
atitude de macho: voltar à sua casa, expulsar o casal de pombinhos na base da
porrada e readquirir seu direito líquido e certo sobre a propriedade.
Morto de bêbado, Meio
Quilo resolveu encarar o desafio.
Marlon se encarregou de
levar Meio Quilo até o octógono do UFC, localizado no Beco Ajuricaba, uma
espécie de ruela transversal, estreita e mal iluminada, existente na Rua
Ajuricaba, entre as ruas Borba e Carvalho Leal.
A casa do Meio Quilo era a
última do beco.
Quando chegaram ao local,
Marlon deixou o carro em ponto morto, com os faróis desligados, e ficou parado
na Rua Ajuricaba, esperando o casal de pombinhos sair correndo do beco para
atropelá-lo quando atravessasse a rua.
Meio Quilo foi realizar
sua lenda pessoal.
O inseparável relógio de
pulso do Meio Quilo marcava quinze para as três horas da manhã quando ele se
aproximou de sua antiga residência, que estava totalmente no escuro e em
silêncio quase absoluto.
Cada vez mais invocado e
decidido, Meio Quilo começou a esmurrar violentamente a porta da casa, fazendo
um escarcéu medonho.
Quando parou de bater, uma
lâmpada externa na frente da casa se acendeu. Mais alguns minutos e a janela da
casa, ao lado da porta, se abriu.
No parapeito da janela,
surgiu a figura de um crioulão de dois metros de altura, com o físico do Mike
Tyson, toalha de banho amarrada na cintura e suado feito um pai de santo.
O sujeito devia estar
carcando a dona da casa quando foi interrompido rudemente pelas pancadas na
porta.
– O que é, porra? – urrou
o negão, sem disfarçar o aborrecimento.
Meio Quilo, tremendo da
cabeça aos pés, com um fiapo de voz:
– Tem dindim?…
Aí, antes que o negão
respondesse, ele meteu o pé na carreira, entrou no carro do Marlon desembestado
e implorou, nervosíssimo:
– Vamo embora, porra, vamo
embora que eu acabei de ver o cão chupando manga!
Nunca mais se aproximou da
casa da ex-esposa.
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