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quinta-feira, dezembro 12, 2019

Louco por dindim



Simas Pessoa, Walter Meio Quilo e Jairo Carramanho no Bar do Jacó

Demitido da fábrica da Samsung durante um processo de reengenharia na empresa, o invocado Walter Meio Quilo utilizou a grana da indenização para mobiliar a residência: comprou jogo de estofado, ar condicionado Split, tevê a cores, CD Player, forno de micro-ondas, etc.

Não satisfeito, montou uma fábrica artesanal de dindim exclusivamente para manter sua cara-metade ocupada, escreveu numa tabuleta “vendi-si didim” (ortografia nunca foi seu forte mesmo!), afixou na frente da casa e deu os trâmites por findos no âmbito doméstico.

Com o resto da grana que sobrou, ele caiu na gandaia. Passou a farrear noite e dia, de domingo a domingo, chovesse ou fizesse sol.

As vendas de dindim de açaí, graviola, taperebá, acerola e cupuaçu estavam de vento em popa, mas a esposa do Meio Quilo começou a ficar injuriada com a ausência do consorte no leito conjugal.

Para abrir a porta dos fundos e deixar o Ricardão entrar foi um passo. Para expulsar Meio Quilo de casa, também.

Ele foi embora levando apenas a roupa do corpo e um inseparável relógio de pulso, presente de sua mãe.

Uns dois meses depois de ter sido expulso sumariamente de sua própria residência, Walter Meio Quilo estava lambendo suas feridas em um boteco, na companhia de Marlon, Charles Olhão, Geraldo Neto, Cley, Newton Melo e Luiz Lobão.

Em vez de dar apoio moral ao indigitado, os vagabundos preferiram exigir que Meio Quilo tomasse uma atitude de macho: voltar à sua casa, expulsar o casal de pombinhos na base da porrada e readquirir seu direito líquido e certo sobre a propriedade.

Morto de bêbado, Meio Quilo resolveu encarar o desafio.

Marlon se encarregou de levar Meio Quilo até o octógono do UFC, localizado no Beco Ajuricaba, uma espécie de ruela transversal, estreita e mal iluminada, existente na Rua Ajuricaba, entre as ruas Borba e Carvalho Leal.

A casa do Meio Quilo era a última do beco.

Quando chegaram ao local, Marlon deixou o carro em ponto morto, com os faróis desligados, e ficou parado na Rua Ajuricaba, esperando o casal de pombinhos sair correndo do beco para atropelá-lo quando atravessasse a rua.

Meio Quilo foi realizar sua lenda pessoal.

O inseparável relógio de pulso do Meio Quilo marcava quinze para as três horas da manhã quando ele se aproximou de sua antiga residência, que estava totalmente no escuro e em silêncio quase absoluto.

Cada vez mais invocado e decidido, Meio Quilo começou a esmurrar violentamente a porta da casa, fazendo um escarcéu medonho.

Quando parou de bater, uma lâmpada externa na frente da casa se acendeu. Mais alguns minutos e a janela da casa, ao lado da porta, se abriu.

No parapeito da janela, surgiu a figura de um crioulão de dois metros de altura, com o físico do Mike Tyson, toalha de banho amarrada na cintura e suado feito um pai de santo.

O sujeito devia estar carcando a dona da casa quando foi interrompido rudemente pelas pancadas na porta.

– O que é, porra? – urrou o negão, sem disfarçar o aborrecimento.

Meio Quilo, tremendo da cabeça aos pés, com um fiapo de voz:

– Tem dindim?…

Aí, antes que o negão respondesse, ele meteu o pé na carreira, entrou no carro do Marlon desembestado e implorou, nervosíssimo:

– Vamo embora, porra, vamo embora que eu acabei de ver o cão chupando manga!

Nunca mais se aproximou da casa da ex-esposa.

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