Revelado nas divisões de
base do Canarinho, de Petrópolis, o lateral direito Tobias jogou
profissionalmente em alguns times de Manaus e encerrou sua carreira no Penarol,
de Itacoatiara, cidade onde mora até hoje.
Um mês antes de se
transferir para a Velha Serpa, ele procurou o barbeiro João Mathias e cantou a
pedra:
– Seu João, quero lhe
comunicar que engravidei a sua filha mais velha, a Walcirene, mas que vou me
casar com ela no religioso, na Igreja de Santa Rita, e depois leva-la comigo
para morar em Itacoatiara.
O barbeiro não disse nada.
Uma semana antes do
casório, Tobias voltou à casa do barbeiro:
– Seu João, quero lhe
comunicar que engravidei a sua filha mais nova, a Walcicléia, mas que vou me
casar com ela no civil, no Cartório do 6º Ofício, e depois leva-la comigo para
morar em Itacoatiara.
O barbeiro não disse nada.
No início dos anos 80,
Tobias casou no civil e no religioso, em cerimônias separadas, evidentemente, e
levou as duas irmãs pra Itacoatiara, para morarem com ele sob o mesmo teto.
Nesse meio tempo, fez três
filhos em cada uma delas e mais meia dúzia de filhos nas nativas locais, e se
transformou no maior garanhão da Velha Serpa.
Com o passar dos anos, as
duas irmãs começaram a não gostar das constantes escapadelas do marido para
“galinhar” pela cidade e resolveram transformar a vida do garanhão em um
inferno.
Todo dia, quando iam
requentar a janta, deixavam a comida queimar de propósito só para o garanhão
dormir com fome.
Suas cuecas só eram
lavadas a cada quinze dias. Roupas de passeio, uma vez por mês.
Foi quando Tobias, também
conhecido como Barão, resolveu radicalizar: levou as duas esposas para Manaus,
alugou o quarto de uma vila na Rua Maués, na Cachoeirinha, e trancafiou as duas
irmãs na gaiola, junto com a renca de filhos.
Aí voltou a Itacoatiara
para dar continuidade à sua bela carreira futebolística e de conquistas
amorosas.
Só vinha a Manaus nos
finais de semanas ou feriados.
Tobias é o primeiro à esquerda, de boné, fazendo o sinal clássico de
“tudo bem”
Um certo dia, mais precisamente
num sábado, o Barão garanhão, morrendo de saudades das duas teúdas, chegou em
casa por volta das 22h e encontrou apenas as crianças dormindo.
Ele ficou possesso ao
verificar a irresponsabilidade de suas esposas – que onda era aquela de deixar
as crianças sozinhas em casa numa noite de sábado?…
Determinado e invocado, o
Don Juan tupiniquim resolveu ir à caça das duas irmãs “irresponsáveis” para
lhes dar uma lição.
Depois de bater pernas por
diversas casas noturnas da Cachoeirinha, Tobias encontrou as duas irmãs no
Pagode da Churrascaria Roda Viva, na Rua Borba canto com a Rua Ajuricaba,
acompanhadas de dois belos exemplares da espécie masculina, dançando
agarradinhas na maior felicidade.
Atônito, pois nunca tinha
visto as esposas tão felizes e radiantes como naquele dia, o garanhão pegou as
duas teúdas pelos braços e as levou à força para fora da casa noturna.
Depois de uma discussão
indecifrável – o Tobias é gago e quando fica brabo ou nervoso a gagueira
aumenta em razão exponencial –, o garanhão entrou com elas em um táxi e mandou
o motorista tocar direto para a casa do barbeiro João Mathias.
Por volta das 3h da
madrugada, Tobias bateu na porta da residência e foi atendido pelo barbeiro,
ainda morrendo de sono, que não escondeu o espanto:
– Boa-noite, meu genro! O
que qui você está fazendo aqui nesse adiantado da hora. Tá tudo bem?! Aconteceu
alguma coisa?!
Tobias nem deixou a bola
quicar e já arrematou de bate-pronto:
– Não tá tudo bem não, seu
João Mathias! Tá tudo mais ou menos! Eu só vim aqui devolver as suas filhas
porque elas não servem para serem minhas esposas não. Amanhã eu trago os seis
curumins e deixo aqui!
Aí, colocou as duas
meninas para fora do táxi e seguiu com o motorista para o quarto da vila da Rua
Maués.
O barbeiro não disse nada.
No dia seguinte, Tobias
deixou a renca de moleques na casa do sogro e se mandou para Itacoatiara.
Só voltava a Manaus de vez
em quando, exclusivamente para comemorar o aniversário das crianças.
E tudo isso ganhando um
salário de miséria no Penarol.
Agora, imaginem o que
aconteceria se ele tivesse sido contratado pelo Flamengo, do Rio de Janeiro. Ou
se ganhasse o salário do Neymar…
Ah, moleque!
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