Os enfant terribles Odivaldo
Guerra e Douglas Brasil
Nascido numa humilde família de trabalhadores rurais de Coari e vindo adolescente para Manaus, o eterno playboy Odivaldo Guerra começou sua vida profissional como balconista, depois virou contabilista, fiscal aduaneiro e despachante, e, em pouco tempo, estava enturmado com a elite da cidade.
Seus points favoritos eram a boate Moranguinho, do Ideal Clube, as manhãs de sol no Parque Aquático do Rio Negro e a quadra de tênis do Bosque Clube.
Vaidoso ao extremo e sempre preocupado com a aparência, Guerra seria uma espécie de metrossexual precoce dos anos 70.
O termo metrossexual foi usado pela primeira vez em 1994 pelo escritor gay Mark Simpson, no artigo “Lá vêm os homens do espelho”, publicado pelo jornal britânico The Independente. Passou anos na gaveta para ganhar força total alvorecer do novo milênio.
Os metrossexuais leem Vanity Fair, usam roupas de grife, discutem as novidades da linha masculina da Clinique e são capazes de fazer um ranking com os cinco melhores “day spas” de qualquer capital europeia em questão de segundos.
Segundo uma pesquisa, que ouviu 519 britânicos e o mesmo números de norte-americanos, 49% deles acham perfeitamente normal um homem fazer limpeza de pele e manicure e 39% aprovam a cirurgia plástica.
O representante supremo da turma é o ex-jogador de futebol britânico David Beckham, que foi uma das estrelas mais reluzentes do galáctico Real Madrid e, ainda hoje, pinta as unhas, muda o corte e a cor do cabelo como quem troca de camisa no final do jogo, gasta milhares de libras com produtos de beleza e confessou já ter usado algumas vezes as calcinhas da mulher, a ex-Spice Girl Victoria.
Seu equivalente norte-americano é o ator Brad Pitt, ex-marido da também atriz Angelina Jolie, que planeja por semanas a posição exata de cada fio de seu cabelo “despenteado” e é um dos maiores salários do cinema.
Bom, mas se o Guerra não era nenhum Brad Pitt em termos de beleza nem um David Beckham em termos de futebol, ainda assim era um exímio conquistador de mulheres.
Basta dizer que ele namorou com sete Miss Amazonas e com uma das três únicas adolescentes que conquistaram o título de “Garota Acácia Dourada de Manaus”, um badalado evento promovido pelo Rotary Club. Exigência para participar do concurso: ser loura natural, ter a pele branca e os olhos claros (verdes ou azuis).
Odivaldo Guerra e seu Maverick cupê, que, eventualmente, funcionava como motel sobre rodas, eram figurinhas carimbadas entre as popozudas “the in crowd”, as fêmeas que estavam por dentro das coisas, as gostosonas que contavam ponto na carreira de um disciplinado abatedor de lebres.
Numa dessas ocasiões, depois de ter finalizado uma lebre no carro logo após o Baile de Gala do Rio Negro, ele foi se encontrar com o resto da turma no restaurante Canto do Galeto, muito famoso entre os notívagos porque vendia uma excelente sopa de mocotó.
Segundo os frequentadores habituais do point, a tal sopa era capaz de cortar uma ressaca na hora – mesmo se o sujeito tivesse passado a noite praticando karatê boliviano.
Trajando um elegante smoking e ainda com um vidro de lança-perfume na mão, Guerra mal entrou no recinto já foi sendo saudado com palavrões pelos presentes e cercado pelos garçons, que tentavam impedir sua entrada no restaurante, cuja placa “ambiente familiar” estava sendo ultrajada pelo garanhão baré.
Depois de vê-lo distribuir e levar sopapos dos garçons (Guerra também era praticante de judô), o advogado Sérgio Litaiff partiu em socorro do amigo:
– Porra, Guerra, o que está havendo? Você só está com a parte superior do smoking. Onde foi que você deixou sua calça?...
Só então o playboy se deu conta da agressividade dos presentes.
Ele estava pelado da cintura pra baixo. Foi um vexame.
Nem seus comoventes pedidos de desculpas sensibilizaram Cavalcante, o dono do restaurante.
Odivaldo Guerra passou dois anos sem poder colocar os pés no lugar.
Guerra é guerra, carniça!
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