Irmão do famoso bicheiro Beto Boca Rica, Ivan Albuquerque (aka “Ivan Chibata”) era um bem-sucedido representante de produtos farmacêuticos quando resolveu seguir a carreira do irmão.
O empresário Thomé Mestrinho, capo di tutti capi dos bicheiros da cidade, lhe deu autorização para abrir uma banca no bairro da Alvorada.
Ivan Chibata convocou Sici Pirangy para ajudá-lo na administração do novo negócio.
Em pouco tempo, Ivan Chibata se transformou no bicheiro mais popular da Cachoeirinha – e em um autêntico novo-rico.
Quero crer que, em valores de hoje, Ivan devia ganhar, limpo, uns R$ 20 mil por semana.
Ele não sabia o que fazer com tanto dinheiro. Começou a gastar perdulariamente.
No final de 1983, Ivan aposentou o velho fusquinha 73 e comprou um Opala Diplomata Cupê 84, de cor branca, zero bala, pagando à vista, em espécie.
Um ano depois, comprou um Opala Diplomata Cupê 85, de cor azul, e uma motocicleta Harley Davison Custom 700cc, ambos zero bala, ambos pagos à vista, em espécie.
No ano seguinte, comprou um Opala Diplomata Cupê 86, de cor vermelha, e um jipe Gurgel Carajás, de cor prata, ambos zero bala, ambos pagos à vista, em espécie.
Sua casa estava ficando parecida com uma revenda de automóveis.
E as presepadas de Ivan Chibata não paravam por aí.
A cada quinze dias, ele levava um grupo de 15 a 20 amigos para passarem o final de semana no Hotel Tropical, de Santarém, ou no Hilton Hotel, de Belém, ou no Gran Marquise Hotel, na praia de Iracema, em Fortaleza.
Com passagens aéreas, hospedagem, comida, bebida e pagamento das putas correndo por conta dele. O bicheiro era marrento.
Numa determinada noite, Ivan Chibata, seus dois seguranças e mais meia dúzia de amigos entraram no conhecido Bar da Dolores, para beber cerveja e jogar conversar fora.
O som no volume máximo de uma juke box, entretanto, tirava qualquer um do sério.
(Juke box, para quem não lembra, era a famosa “penteadeira de puta” porque as mulheres se debruçavam sobre a máquina para escolher as músicas e invariavelmente mostravam a calcinha)
Ele chamou a proprietária do bar, a solícita Dolores Maria, e pediu que ela diminuísse um pouco a altura do som.
Dolores explicou que aquilo era uma exigência do pessoal que havia comprado as fichas da máquina.
Ivan resolveu radicalizar. Ele conferiu na memória da máquina quantas músicas ainda iam tocar e comprou todas as fichas disponíveis no boteco, pensando assim em silenciar a impertinente juke box.
Quinze minutos, ou cinco músicas depois, a máquina silenciou. Ivan e seus convidados começaram a conversar.
Dez minutos depois, a juke box começa a tocar a música “Impossível Acreditar Que Perdi Você”, do Márcio Greik, num volume absurdamente alto.
Puto da vida, Ivan Chibata tornou a chamar a Dolores para saber o que estava acontecendo.
Sem esconder o nervosismo, ela explicou que um freguês havia comprado dez fichas antes de ele chegar e que somente agora estava usando.
Ivan mandou um dos seguranças ir comprar todas as fichas do sujeito, pagando o preço que ele quisesse.
Cheio da truaca, o sujeito não quis nem papo: disse que estava apaixonado e que pretendia repetir a mesma música mais nove vezes.
O bicheiro nem se perturbou. Foi até o seu carro, abriu o porta-luvas, apanhou seu Taurus calibre 38 e deu seis tiros na juke box.
Silenciou a eletrola na marra e ainda botou metade dos fregueses pra correr.
O bar ficou com clima de velório até de madrugada.
No dia seguinte, Ivan Chibata mandou entregar uma juke box novinha em folha para a Dolores.
O bicheiro era arrochado.
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