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quinta-feira, dezembro 19, 2019

Nego Leo e a banha de cobra do Lúcio Preto



Lúcio Preto e Marlon Pinheiro no Canto do Fuxico

Setembro de 1978. A oficina de estofamento do Lúcio Preto ficava nos fundos de sua residência, na Avenida Castelo Branco, e era muito frequentada pelos funcionários da empresa Dias & Dias Parados Ltda.

Enquanto o estofador ficava trabalhando duro para dar conta de seus inúmeros afazeres, os desocupados ficavam fofocando sobre os mais recentes cornos descobertos no bairro ou contando detalhes picantes sobre suas últimas proezas sexuais.

No quintal da oficina havia um imundo tanque de amianto permanentemente cheio de “cabeças-de-prego” por conta da infestação de mosquitos da dengue na água parada da chuva.

Era ali que Lúcio Preto lavava suas ferramentas.

Uma bela manhã apareceu por lá o Nego Leo, se queixando de que não dormia há uma semana por conta de um inexplicável “fuá” que havia acometido seus países baixos.

“Fuá” é o nome popular dado a uma micose provocada por fungos chamada tinea cruris, também conhecida como micose da virilha ou coceira de jóquei.

Você mete as unhas na virilha ou no saco escrotal para coçar e se desprende um pozinho branco, o tal de “fuá”.

Lúcio Preto ouviu pacientemente o relato do sujeito enquanto cortava um pedaço de napa para encapar um dos estofados.

Aí, interrompeu o trabalho, foi até o tanque de amianto, lavou um de seus pincéis e retornou para a oficina.

– Eu tenho um remédio à base de banha de cobra de sucuriju, fabricado pelos índios de São Gabriel da Cachoeira! – avisou o estofador, enquanto secava o pincel em um pano de chão. – Tira a roupa, te deita ali naquele estofado e coça bem no local, que eu vou preparar um pouco pra você... É tiro e queda!

Nego Leo nem discutiu. Ficou pelado, se deitou no estofado e começou a coçar furiosamente a virilha e o saco escrotal. Lúcio Preto insistiu:

– Coça bem, porra, coça bem! Tem que deixar o local quase minando sangue senão o remédio não faz efeito...

Depois de uns dez minutos, Lúcio Preto encharcou o pincel em solução de bateria e deu duas pinceladas no Nego Leo, de baixo pra cima, pegando as virilhas e o saco escrotal.

Nego Leo deu um grito de animal ferido de morte.

Aí, se levantou rapidamente do estofado, saiu correndo alucinado para o quintal e pulou dentro do imundo tanque de amianto.

– A minha virilha está pegando fogo, caralho! Está pegando fogo! – gritava Nego Leo, desesperado, enquanto os demais desocupados da oficina morriam de rir.

– Quando parar de arder, você volta aqui pra receber a segunda dose! – avisou Lúcio Preto, sério que só cu de touro, enquanto retomava sua tarefa de cortar o pedaço de napa.

Nego Leo passou mais de um mês sem colocar os pés na oficina porque, além da ferida braba que resultou da solução de bateria nos seus países abaixo, ainda sucumbiu à fúria do mosquito da dengue, o nosso famoso aedes egyptus.

O Lúcio Preto era cruel!

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