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terça-feira, dezembro 24, 2019

A saga do Mestre Caramuru (Parte 1)



Pai Simão e Caramuru Souza

Ele tinha um toque de bola extremamente refinado e, por isso mesmo, detestava jogador que dava “bicuda” ou “isolava” a bola nas arquibancadas.

Era um volante moderno, nos anos 60, que atacava e defendia com igual desenvoltura.

Nasceu na terra que exportou vários craques para Santarém: Fordlândia, a cidade industrial que o magnata Henry Ford construiu no coração da Amazônia.

Em Santarém, ele jogou no Coser Clube, São Francisco e São Raimundo, onde foi campeão, e fez, juntamente com Amiraldo, um dos melhores meios-de-campo do futebol do Baixo-Amazonas.

Seu nome: Caramuru Borges de Souza.

Filho do comerciante Miguel Guimarães, um dos mais ilustres membros da colônia santarena residente em Manaus, Caramuru veio morar na capital amazonense quando ainda era criança.

Nos finais de semana, Pai Simão costumava apanhar o comerciante Miguel Guimarães em sua casa para passearem de carro pela cidade.

Meu pai, que possuía um táxi Aero Willys, conhecia o velho Miguel desde Santarém e mantiveram a mesma amizade em Manaus.

O jovem Caramuru começou a estudar no Colégio Dom Bosco e a disputar alegres peladas no Estádio General Osório do 27º BC (“Batalhão de Caçadores”).

Sua grande habilidade no trato da bola começou a despertar o interesse de muitos “olheiros”.

A primeira oportunidade aconteceu quando o São Lourenço, time que participava do campeonato amador da 2ª divisão, o convidou para defender as suas cores.

Caramuru tinha apenas 16 anos.

Depois de mostrar seu fino trato com a bola, sua fama estendeu-se aos clubes da 1ª divisão e o treinador do Auto Esporte assediou a família do garoto para que ele pudesse jogar no campeonato amazonense.

Dirigente e treinador do time, Cláudio Coelho foi o responsável pela ida do craque para o Auto Esporte, depois de convencê-lo a fazer o famoso “teste de campo” entre os reservas do time.

Bastou o primeiro treino para Caramuru ser aprovado logo de primeira, graças ao seu vistoso futebol.

Depois de alguns treinamentos, ele ganhou a posição de titular no time principal para fazer sua estreia contra um fortíssimo adversário, o tradicional Clube do Remo (PA), que trazia na sua bagagem jogadores como Smith, Socó, Mangaba, Casemiro, Zé Ferreira, Kiba, Sessenta e Dudinha, este oriundo do time São Francisco, de Santarém.

O adolescente Caramuru estreou no Auto Esporte com uma sensacional vitória de 3 a 0 contra o Leão Azul do Baenão.

Os heróis desta conquista do time baré, que ainda jogavam no esquema 2-3-5, foram Vicente, Guarda e Gatinho; Juarez, Gilberto e Joia; Silvio, Osmar, Mario Gordinho, Caramuru e Manoel.

Caramuru sagrou-se bicampeão do futebol amazonense nos anos de 1956 e 1959, e ficou jogando em Manaus até 1962.

Durante uma viagem de férias para Fordlândia, Caramuru encontrou a bordo do barco regional em que viajava o craque Leopoldo, que o convidou para tentar a sorte em um dos times da Princesinha do Tapajós.

A fama do craque bom de bola se espalhou em Santarém e a repercussão chegou até aos ouvidos de Antonio Turco, um dos dirigentes do São Francisco, que acreditou em Leopoldo e pediu o aval do então presidente do clube, Francisco Coimbra, para contratar o craque para o lugar de Mindó, que já estava pendurando as chuteiras.

Tudo isso ocorreu no ano de 1963. Caramuru foi recebido com festa pelo grande elenco do São Francisco: Gato, Tarol, Jô, Pedrinho Araújo, Edvar, Tovica, Afonso, Aluísio, Beleza Preta, Mindó, Coruja, Joseli e Leopoldo.

O time era treinado pelo famoso Raik e no comando fora do campo estavam Chico Coimbra, Dídimo Souza, Osmar Simões, Machadinho e Otaviano Matos.

Caramuru jogou algumas partidas amistosas pelo São Francisco.

Contra o Rio Negro, de Manaus, o time venceu por 4 a 0. Foi derrotado pelo Clube do Remo, de Belém, por 4 a 3. Empatou em 1 a 1 com o Moto Clube e perdeu para o Maranhão Atlético Clube por 4 a 2, ambos de São Luís.

O jogador, entretanto, não se ambientou no time azulino e se mandou para Fordlândia, onde foi por conta de um chamado da família para trabalhar na Petrobrás.

Acabou ficando três anos na empresa.

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