Em pé: Marlon, Elson, Luiz Lobão, Jacó Fernandes, Dinho Garcia, Nego
Gel, Simas Pessoa, Romualdo e Junior. Agachados: Ivaldo, Cid Lopes, Belmiro,
Bó, Juarez Tavares, Deucimar e Amarildo Moura. Sentados: Jorginho e Júlio
Almeida.
Agosto de 1998. O
invocadíssimo Juarezinho Tavares resolve colocar um novo time para disputar o
Peladão porque os antigos times da área (Sancol, Murrinhas, Inútil, Atlântica,
Setembro Negro, etc) já haviam sumido nas brumas do tempo e se convertido em
lendas urbanas.
Comandante-em-chefe da
Esquadrilha da Fumaça da Cachoeirinha, que tinha como base operacional o
entorno do Top Bar, Juarezinho escolheu para o seu novo time só rastafáris de
responsa: Simas Pessoa, Cid Lopes, Belmiro, Nego Gel, Jorginho Almeida,
Amarildo Moura, Dinho Garcia, Clodoaldo, Nelsinho Torres, Mestre Bó, Deucimar,
Pira, Junior, Marlon, Jacó Fernandes e por aí afora.
Nome do time: Força Unida
da Cachoeirinha (FUC). Na verdade, uma corruptela – para os não iniciados na
filosofia de Bob Marley – da famosa palavra de ordem “Fuck yourself”, o nosso
velho e conhecido “Vá se foder!”, utilizada pelos moleques quando alguém pedia
para “dar um dois” quando a diamba já estava no fim…
O primeiro jogo do FUC era
contra o Racing, da Betânia, no campo do Barro Amarelo, atrás do antigo
Supermercado Royale, já na divisa Raiz-Japiim.
Como sabiam que precisavam
estrear em grande estilo, eles trataram de se aquecer antes de entrar em campo.
Consumiram um quilo de
erva maldita e rebateram com várias doses de cachaça Velho Barreiro. Entraram
em campo nas pontas dos cascos, mas levemente “bolados”.
O sujeito chutava com
violência e a bola levava uma eternidade para cair nos pés do companheiro,
mesmo que ele estivesse a apenas dois metros de distância.
O Racing se aproveitava
desses vacilos diâmbicos, mas era incapaz de transformar a superioridade
técnica em gols.
O primeiro tempo terminou
em um prosaico zero a zero.
No segundo tempo, Juarezinho
partiu para o tudo ou nada: escalou Amarildo Moura, o mais marombado da turma,
para ser o centroavante matador e fez a recomendação de praxe para o resto da
galera:
– Pegou na bola, mete na
área pro Amarildo, que ele resolve.
Dito e feito. E haja bolas
sendo centradas na área. Amarildo nem aí.
Faltando uns cinco minutos
para o jogo terminar, Nelsinho Torres driblou dois zagueiros, tocou pra Junior,
que rolou a bola limpa para Amarildo, que estava entretido em um bate papo
interminável com o goleiro adversário, cuja principal característica era ter
lábios leporinos.
Ele nem percebeu a bola
passando na sua frente, lentamente, pedindo para ser empurrada pra dentro do
gol.
O jogo terminou como
começou: zero a zero.
Puto da vida, Juarezinho
foi cobrar explicações do centroavante matador:
– Caralho, bicho, o Junior
colocou a bola na tua frente… Era só empurrar pro gol e a gente ganhava o jogo.
O que qui faltou, porra?…
– Calma, meu treineiro,
calma! – devolveu Amarildo, com a tranquilidade de um rastafári tarimbado. –
Aquele goleiro é o Beiço de Anta, o maior boqueiro da Betânia. Ele ficou de dar
um abatimento de 50% quando a gente for fazer as paradas. Não ficava bem eu meter
um gol no nosso mano fornecedor…
O FUC deixou o campo do
Barro Amarelo comemorando o empate em ritmo de carnaval.
Pelo menos o consumo da
erva maldita pelo menor preço do mercado estava garantido até o final do
Peladão.
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