Chico Costa e Simão
Pessoa no Bar do Jacó
Abril de 1982. Um dos mais hábeis jogadores de dominó da Cachoeirinha, o comerciante Maristóteles, pai do Neto e do Totinha, tinha um prazer quase sádico em azucrinar os “perus” que ficavam palpitando durante as dramáticas partidas de dominó disputadas no Top Bar.
O engenheiro Chico Costa era um dos que mais sofriam em suas mãos.
De repente, com a partida quase no fim, Maristóteles perguntava o placar.
Quase sempre, sua dupla estava vencendo por uma diferença de mais de 50 pontos.
Ele, então, consultava as três pedras que tinha na mão, observava o jogo formado na mesa, fazia uma série de cálculos mentais e começava a falar para si mesmo, bem baixinho, mas audível o suficiente para o “peru” escutar, enquanto se preparava para sentar uma pedra:
– É... Não tem outro jeito!... Só dá pra fazer isso mesmo!... Vamos lá!... Seja o que Deus quiser!...
Postado em suas costas, vendo suas pedras e fazendo a mesma série de cálculos mentais, o “peru” começava a ficar nervoso.
E o nervosismo se transformava em dor, raiva, exasperação, desespero, quando Maristóteles, de pura sacanagem, sentava uma pedra que não tinha nada a ver com o desenrolar clássico da partida até mesmo na visão estreita de um leigo.
Numa espécie de uivo dolorido saindo do mais recôndito de suas entranhas, o “peru” lhe tomava as pedras da mão e gritava:
– Cavalo! Não era pra jogar essa aí não! Era pra jogar aqui nessa ponta, com essa pedra aqui, dando 50, mais 50 e dominó de 20! Cavalo! Invertebrado! Desgraçado! Filho da puta! Burro!
Maristóteles só faltava perder o fôlego de tanto rir da fúria, do desespero e das imprecações do sujeito.
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