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terça-feira, dezembro 24, 2019

Eu e Mário Adolfo brincando de mountain bike



Caloi Barra Forte: só para os fortes, só para os machos!

Fevereiro de 1970. No Natal do ano anterior, Pai Simão havia nos presenteado com duas bicicletas Caloi: uma feminina (“Caloi Ceci”), na cor azul, para as meninas, e uma masculina (“Caloi Barra Forte”), na cor vermelha, para os moleques (eu e Simas).

Estava na cara que o futuro Careca Selvagem dificilmente iria pilotar aquela máquina: ele não tinha tamanho para sentar no selim e pisar nos pedais ao mesmo tempo.

O safado resolveu o problema enfiando uma das pernas por dentro do arco oco que servia de suporte do quadro para alcançar um dos pedais e pilotar a “magrela” meio de lado, como se fosse um sidecar.

Eu havia aprendido a andar de bicicleta com seis anos de idade, quando Pai Simão comprou duas minibicicletas pra gente.

Simone e Silene foram as primeiras a aprender a andar nas bicicletas sem as “rodinhas” auxiliares.

Eu levei um bom tempo até parar de olhar pros pedais e seguir em frente, sem cair.

Silane, Selane e Simas também aprenderam a dominar as maquininhas após uma série de tombos memoráveis.

O certo é que quando as duas Caloi nos foram presenteadas, a farra ficou completa.

Havia um pequeno detalhe. Os freios da Ceci já eram produzidos no moderno sistema de cabo de aço, ou seja, você acionava a manopla de freio com apenas um dedo.

Os freios da Barra Forte ainda eram do antigo sistema “freio de vara”, ou seja, duas manoplas de ferro quase na horizontal, que você só conseguiria acionar usando as duas mãos para apertar com força.

Com o uso continuado, as manoplas de freio ficavam mais maleáveis, mas nos seis primeiros meses o piloto tinha que tocar um dobrado.

Para resolver o problema de frenagem, eu pedia que o sujeito do bagageiro saltasse e segurasse a bicicleta pelo próprio bagageiro.

A estilosa bicicleta feminina Ceci

Uma tarde de domingo, eu e Mário Adolfo estávamos caçando brotos na parte plana da Rua Borba, entre a Codajás e a Parintins.

Como o Mário Adolfo nunca se interessou em aprender a andar de bicicleta, eu pilotava a “magrela” e ele ia confortavelmente sentado no bagageiro para ajudar nas freadas.

Lá pelas tantas, ele me convenceu a passar em frente de sua casa, onde as meninas da rua (Edna, Mary Jane, Hedy Lamar, Sôngila, Silane, Noca, Silvana, Nise, etc.) estavam tricotando fofocas.

Nós dois passamos na frente das garotas na maior bossa e, nas proximidades da atual quadra do GRES Andanças de Ciganos, no começo da ladeira em direção à Rua Tefé, deu-se o inevitável: a bicicleta aumentou assustadoramente de velocidade.

– Caceta, Mário Adolfo, pula e segura essa porra que não estou conseguindo frear! – gritei.

– Nem pelo caralho! – devolveu ele, já posicionando os calcanhares no eixo da roda traseira e se preparando para o pior. – A bicicleta está com muita velocidade, não vai dar pra pular não!

A bicicleta embicou em velocidade supersônica em direção à Rua Tefé.

Eu poderia tentar atravessar a Rua Tefé em alta velocidade para que a velocidade diminuísse na próxima ladeira de subida em direção à Rua Itacoatiara, mas fiquei com medo de um carro nos pegar pela proa e fiz a única coisa que me pareceu razoável: dobrei à esquerda na Rua Tefé, pegando uma nova ladeira, dessa vez em direção à Rua Urucará.

Não lembrava que a prefeitura estava fazendo a terraplanagem da rua.

No barro molhado, a bicicleta virou um bólido de Fórmula Um.

Para nossa sorte (ou azar, sei lá), no cruzamento das ruas Tefé e Urucará havia tanta lama, que a bicicleta atolou e nós atolamos junto com ela.

Levamos uns cinco minutos para descobrir onde a “magrela” havia submergido.

Pra completar, surgiu uma briga de dezenas de cachorros a dois metros de onde desabamos.

Por muito pouco não saímos correndo e deixamos a bicicleta por lá mesmo.

Enquanto subíamos a ladeira da Rua Urucará em direção à Parintins, com barro da cabeça aos pés e empurrando, envergonhados, a bicicleta enlameada, discutíamos o que fazer naquela situação.

– Se a gente subir a ladeira da Parintins nesse estado, as meninas vão rir e passar o resto da vida zoando da nossa cara! – avisou Mário Adolfo.

Resolvemos contornar a Rua J. Carlos Antony, descer a Rua Borba e se limpar discretamente em um barril de água que havia no quintal da dona Sila.

A operação mostrou-se absolutamente inútil.

Mal a gente tinha se lavado, o nosso corpo voltava a ficar esbranquiçado como se fôssemos aborígenes australianos se preparando para a festa do padroeiro da aldeia.

Ô barrozinho filho da puta! Estragou o nosso domingo.

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