Fevereiro de 1983. Durante
o tríduo momesco, Lúcio Preto tinha o hábito de parar seu fusquinha na frente
do Bar do Caxuxa, do outro lado da rua, e gritar a plenos pulmões:
– Caxuxa, cadê as
bolinhas? Hoje é dia de desfile do Andanças de Ciganos e eu preciso ficar
ligadaço. Separa umas dez bolinhas de Preludim, Pervetim e Desbutal, que daqui
a pouco eu venho pegar…
Aí, engatava uma marcha no
carro e ia embora.
Servindo uma multidão de
gente com suas batidas da melhor qualidade, Selmo Nogueira, evidentemente, não
sabia onde se esconder, com medo de os clientes começarem a suspeitar que ele
vendia anfetaminas no mercado negro.
As insinuações do boleiro
(sem trocadilho!) iam acabar atraindo a Polícia Federal para o boteco.
Um dia, Selmo resolveu se
vingar. Ele transformou em pó quatro pílulas de Lacto-Purga, colocou numa
“vidreta” e foi se encontrar com o Lúcio Preto no Top Bar, do seu Aristides,
onde funcionava o QG informal do GRES Andanças de Ciganos.
– Estou com uma mercadoria
nova pra você, mas ela precisa ser diluída. Me consegue uma Fanta Laranja! –
avisou Selmo para o aposentado quarto-zagueiro do Sancol.
Sem suspeitar de nada,
Lúcio Preto lhe passou uma garrafa de refrigerante.
Selmo preparou a poção
mágica e devolveu ao jogador. Antes de engatar o carro, avisou:
– Toma tudo de uma lapada
só e espera o efeito em cinco minutos. Se precisar de mais, me dá um toque, mas
não faz muita propaganda para não encher o meu bar de malucos, tá legal?…
Lucio Preto obedeceu às
instruções e tomou a mistureba de uma golada só.
Meia hora depois, o irmão
do Selmo, Afonso Libório, chegou ao Bar do Caxuxa desesperado:
– Êi, bicho, que porra foi
que você deu pro Lúcio Preto?… Com cinco minutos, ele saiu correndo para o
banheiro do Aristides e ainda não saiu de lá até agora… Faz duas horas que ele
está sentado no vaso sanitário, só resmungando e gritando um monte de
palavrões…
Naquele ano, Lúcio Preto
não desfilou pelo GRES Andanças de Ciganos.
Em compensação, também
nunca mais confiou nas “bolinhas” do Bar do Caxuxa.
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