Meu brother desde 1966, Agesilau Belisca atravessou o espelho há dois
anos.
Tenho (temos) saudade
Tenho (temos) saudade
Abril de 1987. Atendendo a
uma sugestão do Luiz Lobão, o bicheiro Ivan Chibata contratou o famoso Agesilau
Belisca, um dos “valentões” mais conhecidos da invocada “Turma do Ypiranga”,
para ser seu novo segurança.
Agesilau ganhou esse
apelido quando ainda era criança porque era tão malvado e violento quanto o
Belisca-A-Lua, um dos cinco diabos da famosa Pastoral do Luso (os outros quatro
eram Luzbel, Trinca Ferro, Come Fogo e Feiticeiro, também chamado de
Cramunhão).
Com o tempo, o apelido de
Agesilau virou apenas “Belisca”.
Eu o conheci como
bombonzeiro do Cine Ypiranaga quando tinha 10 anos de idade e ele, 16.
Ficamos amigos pelo resto
da vida. Nunca tivemos um mísero atrito.
Mas voltemos ao assunto
inicial.
– Esse tal de Belisca é de
porrada mesmo, Luiz Lobão? – questionou Ivan Chibata, que só conhecia o
segurança de fama. – Porque arrumei tantos desafetos que agora tenho que ter
alguém muito bom de porrada para ser o meu anjo da guarda…
Luiz Lobão riu.
– Porra, Ivan, o Belisca é
uma verdadeira máquina de guerra pronta pra matar! – devolveu Luiz Lobão. – Ele
joga capoeira melhor que Mestre Gato, tem um murro melhor que o do Rei Zulu,
briga karatê melhor que o professor Noguchi e luta kung fu melhor que o
professor Sandro José. Além disso, o Belisca conhece as técnicas de krav maga,
savate, judô e jiu-jitsu, possuí uma força descomunal, é imune a dor e já deu
porrada nos desordeiros Otinha e Paixão, na praça do Palácio Rodoviário. Ele é
muito foda, Ivan! Vai por mim…
O bicheiro contratou o
novo segurança.
No mesmo dia, Ivan
Chibata, em companhia de Belisca, Chico Porrada e Luiz Lobão, foi se embriagar
em um boteco lá pelas bandas da Vila da Prata.
Era a primeira missão
oficial do novo segurança.
O tal boteco ficava no
final de um beco estreito, de 20 metros de comprimento por meio metro de
largura, a popular “serventia”.
Sabem o que é não?…
Serventia é o seguinte: você vende um terreno e depois um outro atrás do
primeiro, que não tem entrada.
Então o dono do terreno da
frente deixa ali meio metro de passagem lateral para o dono do terreno de trás,
e essa pequena passagem é chamada de “serventia”.
É daí que vem aquele dito
popular “a porta da rua é serventia da casa”.
O problema é que bastava
um copo de cerveja para o Ivan Chibata ficar valente que nem cobra de
resguardo.
Com meia dúzia de cervas
na cabeça, o bicheiro começou a zoar com o atendimento do boteco.
Os nativos, que estavam
vendo aqueles sujeitos ali pela primeira vez, começaram a ficar invocados.
Na hora em que Ivan
Chibata devolveu uma isca de calabresa argumentando que “aquela merda estava
mais ruim do que jerimum cheio d’água”, o cearense dono da birosca resolveu
engrossar o caldo.
Em menos de dois minutos
de discussão, uns dez caras cercaram o quarteto e começaram a distribuir
porradas pra valer.
Vendo que iam ser
massacrados, Luiz Lobão e Chico Porrada correram para o carro.
Como se fosse um oficial
de segurança de presidente americano, Belisca limitou-se a proteger o bicheiro
com o próprio corpo enquanto dezenas de ripas, cadeiras e mesas eram
arrebentadas nas suas costas.
Ele saiu conduzindo o
patrão pelo beco estreito, com a matilha no seu encalço.
Aguentando estoicamente
uma saraivada de chutes, pescoções e socos vindos de todos os lados, Belisca
conseguiu levar Ivan Chibata incólume até o carro, abriu a porta e ainda
aguentou uns três minutos de ripas, cadeiras e mesas sendo arrebentadas nas suas
costas até o bicheiro colocar o cinto de segurança.
Só então Belisca entrou no
carro e Chico Porrada, que era o motorista, saiu cantando pneus.
O novo segurança tinha
apanhado que nem couro de pisar tabaco, mas não dera um pio.
Dentro do carro, Ivan Chibata
estava injuriado.
– Porra, Luiz Lobão, mas
esse segurança que tu me arrumou é a maior fraude! – reclamava. – O Belisca não
é de porrada não! Ele é de aguentar porrada, caralho! Ele é de aguentar
porrada!!! Não serve pra mim não!
O novo segurança foi mandado
embora no mesmo dia.
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