O eterno playboy Odivaldo Guerra e seu carango da hora
Setembro de 1986. O eterno
playboy Odivaldo Guerra havia descoberto recentemente os pensamentos de
Confúcio e estava em estado de graça.
Disposto a dividir aquela
sabedoria milenar com a gente pobre e ignara da Cachoeirinha, ele chega ao
clube Fazendário, durante uma animada manhã de sol, e se abarca em uma mesa
dividida por Sici Pirangy e Ricardo Pinheiro (aka “Ricardão”).
Na primeira oportunidade,
Guerra abre o verbo:
– Como dizia Confúcio, não
são as ervas más que afogam a boa semente, e sim a negligência do lavrador.
Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo. Quando vires um homem mau,
examina-te a ti mesmo.
– Cuma?! – pergunta um
incrédulo Sici.
Guerra não dá a mínima e
dispara novos mísseis balísticos intercontinentais da mais cristalina filosofia
confuciana:
– Saber o que é correto e
não o fazer é falta de coragem. A experiência é uma lanterna dependurada nas
costas que apenas ilumina o caminho já percorrido. A preguiça anda tão devagar,
que a pobreza facilmente a alcança. Quem disse isso foi Confúcio!
– Porra, Guerra, a gente
estava aqui conversando sobre o próximo enredo do Andanças de Ciganos e tu me
chegas com esse papo aranha! – reagiu Ricardão.
Guerra não estava nem aí:
– Se queres prever o
futuro, estuda o passado. Transportai um punhado de terra todos os dias e
fareis uma montanha. Querem que vos ensine o modo de chegar à ciência
verdadeira? Aquilo que se sabe, saber que se sabe. Aquilo que não se sabe,
saber que não se sabe. Na verdade é este o verdadeiro saber.
– Porra, bicho, isso está
meio confuso… – argumentou Sici, sem esconder a ironia.
– Não é confuso, idiota, é
Confúcio! – devolveu Guerra. – Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber
o que é a morte? O mestre disse: Pode-se induzir o povo a seguir uma causa, mas
não a compreendê-la. Quem de manhã compreendeu os ensinamentos da sabedoria, à
noite pode morrer contente. Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim,
evitarás muitos aborrecimentos.
– Então, bonitão, tu fazes
o seguinte! – avisou Sici, se levantando e fazendo um gesto para Ricardão fazer
o mesmo. – Tu chamas o Confúcio e fica aqui batendo papo com ele, que a gente
está indo embora…
Dito isso, os dois picaram
a mula, deixando o playboy filosofando sozinho na mesa.
Já não se fazem mais
aprendizes de filósofos como antigamente.
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