No início de 1978, os
dirigentes do Charlie Show Clube (Hiran Queiroz, Donga e Chicuta), da Rua
Maués, na Cachoeirinha, deram um upgrade no time contratando novos jogadores:
Marco Aurélio, o famoso “Louro do Pezão”, João Carlos, o brilhante
ponta-esquerda da Escola de Datilografia Santa Rita, Gilberto, ex-parceiro do
Giovane “Falcão do Norte” no Cobral, os irmãos Ernandes e Eraldo, ex-cobrões do
Canarinho, Pociano, Mário D10, Tobias e Luiz Gonzaga, entre outros.
O novo time ficou invicto
durante cinco anos – há controvérsias! – e foi extinto no final dos anos 80,
mas teve o prazer de contar com a lenda Luiz Gonzaga vestindo a camisa do
clube.
Se o clube inglês Arsenal
Futebol Clube é o terceiro time com maior título do Premier League (Liga de
Futebol Profissional da Inglaterra), o Arsenal, de Luiz Gonzaga, é o time que
mais brilhou no maior campeonato de peladas do mundo.
Foram sete títulos em 37
participações das 39 edições do Peladão. E em cinco edições bateu na trave,
ficando com o vice-campeonato. Uma delas foi em 2012.
Formado por um grupo de
amigos da Colônia Oliveira Machado, a equipe entrou pra história como o maior
bicho-papão do Peladão por ter levado mais vezes o troféu para sua casa.
De acordo com um dos
fundadores e primeiro presidente do Arsenal, Ataíde Martins, o nome não tem
ligação com o time da Inglaterra. “Foi apenas uma homenagem a uma rua do bairro
com o nome de Arsenal da Marinha, onde moravam vários jogadores”, explicou.
Ataíde conta a trajetória
do time e recorda o início de tudo, até o prazer de ser o time com maior número
de títulos da história. “Nós não tínhamos conhecimento um do outro aqui.
Conhecia o Luiz Gonzaga apenas de vista, mas nós tínhamos uma pelada perto de
casa. E comentei que se a comunidade aceitasse, eu dava o material e formávamos
o time”, recorda.
Mário Jorge de Oliveira e Luiz Gonzaga
Em 39 edições do Peladão o
time ficou fora em apenas duas edições. E a equipe que atualmente desfruta
apenas da pelada do fim de semana, afirmou que na época todos os jogadores
jogavam o campeonato por amor à camisa.
“Uma cervejinha e um tira
gosto era sempre bom após os jogos. Gostávamos tanto de futebol que as
conquistas eram só uma consequência dessa paixão”, afirma o ex-zagueiro
Aristides Leão.
O centroavante Luiz
Gonzaga, um dos fundadores da equipe, falou da emoção e do prazer de construir
uma história de vitórias dentro da competição, nos tempos em que Manaus era uma
cidade pacata e ainda não havia a verdadeira pré-profissionalização de atletas do
Peladão como ocorre nos dias de hoje.
“A emoção era de um
peladeiro que defendia a sua comunidade, em que havia muitas dificuldades e
preconceitos. Com o Arsenal, nós tentávamos mostrar o lado bom do bairro por
meio do esporte. Conseguimos mudar o conceito do nosso bairro. Foi uma época de
bastante união, com o apoio dos amigos e das famílias e de muito trabalho de todos”,
diz ele.
“A vida é como um jogo de
futebol, cada lance pode definir sua trajetória”. É com essa frase do pensador inglês Mikael
Johnathan, um grande aficionado pelo esporte, que Luiz Gonzaga define sua
história.
Foram dez títulos na
competição, o que faz dele o maior campeão individual do Peladão de que se tem
notícia.
Luiz Gonzaga e Simão Pessoa, durante um amistoso
entre Murrinhas e Charlie Show Clube
entre Murrinhas e Charlie Show Clube
Troféus e recordações de
uma carreira vitoriosa são guardados na memória do jogador.
Antes de montar o
brilhante time do Arsenal, em 1987, o atleta se aventurou em outros campos e
atuou pelo Tuna Luso da Praça 14, sendo três vezes campeão em 80, 82 e 84.
Com bagagem e o talento de
um vencedor, o peladeiro levou toda sua experiência para a Colônia Oliveira
Machado, onde levantou o troféu sete vezes.
“Na época formávamos um
time de comunidade, por amizade e amor à camisa. O Peladão era sinônimo de
prazer e diversão, além de ver todos os seus familiares torcendo por você na
beira na arquibancada. Isso não tinha preço. Tudo isso nos motivava a dar o
nosso melhor”, recorda.
O primeiro coordenador da
competição, Messias Sampaio, conta que o espírito do Peladão sempre foi o de
celebrar a comunidade.
“Em 1973, primeiro ano do
Peladão, eu e o jornalista Umberto Calderaro descobrimos que a cidade toda
estava tomada por campos de futebol. Até ao lado de lixeira tinha campo. E que
o pessoal adorava jogar o futebol mais descontraído”, lembra Messias.
Luiz Gonzaga e Rubenilson Massulo, dos Jovens Livres da Cachoeirinha
Desde a década de 1970, a
adesão das comunidades ao campeonato criado por Umberto Calderaro se mantém
forte e faz da competição uma das mais democráticas do mundo.
“Hoje em dia, o Peladão
consegue manter essa tradição. Ainda mais depois que criou outras categorias
(Peladinho, Master, Feminino e Indígena), em que conseguiu atrair ainda mais o
povo, a população dos bairros”, avalia Luiz Gonzaga, atual presidente do
Arsenal.
“O Peladão sempre foi uma
competição que conseguiu fazer valer a tradição da camaradagem, do
companheirismo, da participação da comunidade dando apoio às suas equipes. Eu
vivi essa fase pela Tuna e pelo Arsenal. Até porque, hoje, muitas pessoas que
vinham mantendo seus times através do poder financeiro, já reavaliaram um pouco
seus conceitos e estão dando um maior apoio aos novos valores que surgem em
escolinhas de futebol de bairro, de projetos comunitários”, resume o jogador.
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