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quarta-feira, dezembro 18, 2019

Luiz Gonzaga: o maior campeão do Peladão de todos os tempos



No início de 1978, os dirigentes do Charlie Show Clube (Hiran Queiroz, Donga e Chicuta), da Rua Maués, na Cachoeirinha, deram um upgrade no time contratando novos jogadores: Marco Aurélio, o famoso “Louro do Pezão”, João Carlos, o brilhante ponta-esquerda da Escola de Datilografia Santa Rita, Gilberto, ex-parceiro do Giovane “Falcão do Norte” no Cobral, os irmãos Ernandes e Eraldo, ex-cobrões do Canarinho, Pociano, Mário D10, Tobias e Luiz Gonzaga, entre outros.

O novo time ficou invicto durante cinco anos – há controvérsias! – e foi extinto no final dos anos 80, mas teve o prazer de contar com a lenda Luiz Gonzaga vestindo a camisa do clube.

Se o clube inglês Arsenal Futebol Clube é o terceiro time com maior título do Premier League (Liga de Futebol Profissional da Inglaterra), o Arsenal, de Luiz Gonzaga, é o time que mais brilhou no maior campeonato de peladas do mundo.

Foram sete títulos em 37 participações das 39 edições do Peladão. E em cinco edições bateu na trave, ficando com o vice-campeonato. Uma delas foi em 2012.

Formado por um grupo de amigos da Colônia Oliveira Machado, a equipe entrou pra história como o maior bicho-papão do Peladão por ter levado mais vezes o troféu para sua casa.

De acordo com um dos fundadores e primeiro presidente do Arsenal, Ataíde Martins, o nome não tem ligação com o time da Inglaterra. “Foi apenas uma homenagem a uma rua do bairro com o nome de Arsenal da Marinha, onde moravam vários jogadores”, explicou.

Ataíde conta a trajetória do time e recorda o início de tudo, até o prazer de ser o time com maior número de títulos da história. “Nós não tínhamos conhecimento um do outro aqui. Conhecia o Luiz Gonzaga apenas de vista, mas nós tínhamos uma pelada perto de casa. E comentei que se a comunidade aceitasse, eu dava o material e formávamos o time”, recorda.

Mário Jorge de Oliveira e Luiz Gonzaga

Em 39 edições do Peladão o time ficou fora em apenas duas edições. E a equipe que atualmente desfruta apenas da pelada do fim de semana, afirmou que na época todos os jogadores jogavam o campeonato por amor à camisa.

“Uma cervejinha e um tira gosto era sempre bom após os jogos. Gostávamos tanto de futebol que as conquistas eram só uma consequência dessa paixão”, afirma o ex-zagueiro Aristides Leão.

O centroavante Luiz Gonzaga, um dos fundadores da equipe, falou da emoção e do prazer de construir uma história de vitórias dentro da competição, nos tempos em que Manaus era uma cidade pacata e ainda não havia a verdadeira pré-profissionalização de atletas do Peladão como ocorre nos dias de hoje.

“A emoção era de um peladeiro que defendia a sua comunidade, em que havia muitas dificuldades e preconceitos. Com o Arsenal, nós tentávamos mostrar o lado bom do bairro por meio do esporte. Conseguimos mudar o conceito do nosso bairro. Foi uma época de bastante união, com o apoio dos amigos e das famílias e de muito trabalho de todos”, diz ele.

“A vida é como um jogo de futebol, cada lance pode definir sua trajetória”.  É com essa frase do pensador inglês Mikael Johnathan, um grande aficionado pelo esporte, que Luiz Gonzaga define sua história.

Foram dez títulos na competição, o que faz dele o maior campeão individual do Peladão de que se tem notícia.

Luiz Gonzaga e Simão Pessoa, durante um amistoso 
entre Murrinhas e Charlie Show Clube

Troféus e recordações de uma carreira vitoriosa são guardados na memória do jogador.

Antes de montar o brilhante time do Arsenal, em 1987, o atleta se aventurou em outros campos e atuou pelo Tuna Luso da Praça 14, sendo três vezes campeão em 80, 82 e 84.

Com bagagem e o talento de um vencedor, o peladeiro levou toda sua experiência para a Colônia Oliveira Machado, onde levantou o troféu sete vezes.

“Na época formávamos um time de comunidade, por amizade e amor à camisa. O Peladão era sinônimo de prazer e diversão, além de ver todos os seus familiares torcendo por você na beira na arquibancada. Isso não tinha preço. Tudo isso nos motivava a dar o nosso melhor”, recorda.

O primeiro coordenador da competição, Messias Sampaio, conta que o espírito do Peladão sempre foi o de celebrar a comunidade.

“Em 1973, primeiro ano do Peladão, eu e o jornalista Umberto Calderaro descobrimos que a cidade toda estava tomada por campos de futebol. Até ao lado de lixeira tinha campo. E que o pessoal adorava jogar o futebol mais descontraído”, lembra Messias. 

Luiz Gonzaga e Rubenilson Massulo, dos Jovens Livres da Cachoeirinha

Desde a década de 1970, a adesão das comunidades ao campeonato criado por Umberto Calderaro se mantém forte e faz da competição uma das mais democráticas do mundo.

“Hoje em dia, o Peladão consegue manter essa tradição. Ainda mais depois que criou outras categorias (Peladinho, Master, Feminino e Indígena), em que conseguiu atrair ainda mais o povo, a população dos bairros”, avalia Luiz Gonzaga, atual presidente do Arsenal.

“O Peladão sempre foi uma competição que conseguiu fazer valer a tradição da camaradagem, do companheirismo, da participação da comunidade dando apoio às suas equipes. Eu vivi essa fase pela Tuna e pelo Arsenal. Até porque, hoje, muitas pessoas que vinham mantendo seus times através do poder financeiro, já reavaliaram um pouco seus conceitos e estão dando um maior apoio aos novos valores que surgem em escolinhas de futebol de bairro, de projetos comunitários”, resume o jogador.

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